Por Renato Rovai
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Não há mais a menor sombra de dúvida de que esta eleição presidencial de 2014 é a mais emocionante e cheia de alternativas desde 1989. Isso se deve não só à queda do avião que levava Eduardo Campos em Santos, como também a erros do governo e a fragilidade da oposição. O eleitorado tem muitas dúvidas sobre que caminho seguir porque seu nível de exigências hoje é maior do que lhe é oferecido. Tanto por um lado, quanto pelo outro.
Marina Silva não durou uma primavera. No final de agosto e começo de setembro já havia gente dando como favas contadas sua vitória. Ela parecia ser a encarnação dos desejos do eleitor. Alguém com história limpa, discurso baseado na esperança de uma mudança ancorado num mundo mais justo e sustentável e descolada da política tradicional. Mas na hora que ela teve de enfrentar as questões do debate real, sobre programa de governo e opções a fazer, a candidata se mostrou frágil. Em uma hora apontava para um lado, na seguinte, para o outro. E, por incrível que pareça, foi num tema polêmico e onde o outro lado é ainda maioria, a questão do casamento igualitário, que Marina perdeu seu glamour. Quando anunciou mudança de posição depois de quatro tuítes do Pastor Malafaia, viu escorrer pelos dedos boa parte do seu capital simbólico. Ali Marina começou a deixar a eleição de 2014.
O quadro começou a se indefinir no final de setembro em relação ao segundo turno e de repente Aécio a ultrapassou nas urnas de forma surpreendente. E já no dia 5 de outubro à noite virou favorito para muitos. Este blogueiro escreveu que ele deveria aparecer à frente nas primeiras pesquisas de segundo turno, mas também disse que mesmo assim Dilma mantinha ligeiro favoritismo.
E as pesquisas confirmaram a hipótese do blogueiro, mas sem a força que alguns esperavam. Havia gente que imaginava que ele apareceria com 10 pontos de frente em relação à candidata do PT. A eleição voltou a ficar indefinida. Mas a mídia que usa concessões públicas para fazer campanha quer desequilibrá-la.
Se o PT e a campanha de Dilma não enfrentarem os meios de comunicação e mirarem apenas no tucano, ele sairá vitorioso. O que a TV Globo fez ontem no Jornal Nacional e o que alguns jornais fizeram hoje, além dos portais durante todo o dia de ontem, é algo vergonhoso. Transformaram a denúncia de um bandido que está falando para tentar se livrar da cadeia em algo absolutamente crível. E vazaram um áudio de um depoimento dado em segredo de justiça que é criptografado para não prejudicar o processo.
Algo absolutamente absurdo e que demonstra como o Estado brasileiro não é aparelhado pelo PT, mas por aqueles que o governaram por 500 anos. Eles têm gente que colabora para os seus interesses em todas as áreas: na justiça, no Ministério Público, na Polícia Federal etc. E os meios de comunicação que deveriam acompanhar esses fatos com um mínimo de responsabilidade, usam essas relações para influenciar na eleição.
Aécio Neves construiu um aeroporto e deu a chave do portão para o titio. A mídia, ao invés de investigar o fato, fez de tudo para lhe livrar da investigação. Aécio foi o patrocinador da candidatura de Zezé Perrela como suplente de Itamar Franco, que já se candidatou ao Senado de Minas doente, tanto que veio falecer logo depois da posse. Um helicóptero da família Perrela é apreendido com 500 quilos de cocaína e o caso é abafado num dos maiores absurdos da história da cobertura da mídia no Brasil.
A cobertura midiática desta eleição não tem sido muito diferente da de outros momentos. Mas a questão é que, como neste segundo turno o jogo está mais embolado e só há 15 dias para ver quem vai se tornar presidente da República, não há espaço para deixar a mídia jogar sozinha.
A guerra está declarada. E em momentos assim, não há opção. Ou o PT e a campanha de Dilma enfrentam as acusações e desmontam a farsa midiática ou a vaca vai para o brejo, como disse outro dia a presidenta.
O resultado das pesquisas neste momento é o de menos. Ao que consta, aliás, na segunda-feira pelos trackings a diferença de Aécio era bem maior. Ou seja, ela caiu. A onda já arrefeceu. O PT tem espaço para ganhar redutos que perdeu na capital e na grande São Paulo. E isso pode vir a ser fatal para as pretensões do tucano.
Mas para ganhar vai ter de quebrar alguns ovos. Denunciar o caráter elitista da campanha tucana, mostrar que o futuro ministro da Economia de Aécio já fala em privatizar bancos e ao mesmo tempo mostrar que a Globo e seus aliados querem voltar a fazer o que sempre fizeram com o povo, enganá-los tratando-o como um bando de trouxas.
Nas manifestações de junho, palavras de ordem contra a Globo foram tão ou mais entoadas do que contra Dilma e o PT. Ou seja, não se pode ter medo de enfrentá-la. Até porque quem declarou guerra foi ela com o Jornal Nacional de ontem.
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