O condicionamento clássico (ou condicionamento pavloviano ou condicionamento respondente) é um processo que descreve a gênese e a modificação de alguns comportamentos com base nos efeitos do binômio estímulo-resposta sobre o sistema nervoso central dos seres vivos. (wikipedia)
domingo, 19 de outubro de 2014
Jornalistas, eu os acuso!
A responsabilidade da imprensa pelo acirramento de ânimo entre petistas e anti-petistas é evidente. Estão fabricando um fosso que vai se aprofundando. Um dia será impossível a construção de pontes para o retorno à confraternização.
Ontem (18/10) publiquei um twit com a seguinte mensagem: "O antipetismo cego está se radicalizando e dividindo o país. Um dia ainda conseguem a guerra civil.”. É o que penso de verdade, mas esse pensamento não cabe em somente cento e quarenta caracteres, por isso a razão desse texto.
Estamos entrando num caminho extremamente perigoso, a partir do qual a percepção de uma parcela da população quanto à dificuldade de solução política pela via democrática começa a criar, em mentes menos tolerantes, perigosas ideias de dominação a qualquer preço, a qualquer custo.
A paz social sempre nos caracterizou, ao ponto de sermos inclusive considerados pusilânimes. Enquanto o povo argentino ou o chileno não deram trégua às respectivas ditaduras, os militares brasileiros sentiram-se totalmente confortáveis na cadeira do poder, praticamente sem resistência da população, sem contar uns poucos “chatos” que não chegaram a causar incômodo relevante.
Sempre fomos assim, um povo pacífico. Os que hoje arriscam perturbar essa paz brincam de forma irresponsável com o monstro do sonho totalitário. Fazem isso porque, ou pensam tolamente que o barulho ainda é incapaz de acordá-lo, ou são idiotas imaginado que lograrão controlá-lo.
O abismo que estão criando é capaz de engolir os dois lados.
É sábia a comparação feita pelo juiz paulista Marcelo Semer do jogo praticado pela imprensa real com aquele retratado no excelente filme “V de Vigança”, no qual, dada a ordem para a disseminação do medo pela imprensa, esta imediatamente passa a publicar somente manchetes negativas. O objetivo? Causar medo na população, disseminar o pânico, para facilitar o caminho daquilo que apropriadamente Semer denomina de “populismo legal”, com estabelecimento de medidas apresentadas como de “segurança” e de “benefício social”, que, porém, invariavelmente envolvem severa redução das liberdades e dos direitos individuais. Em todo lugar, em toda a história, a escalada do medo é seguida da ascensão do canto do radicalismo conservador, com o discurso do ódio, da segregação, do preconceito, do endurecimento criminal, do conservadorismo moral, da eterna sensação conspiratória causada pela vigilância de todos por todos. Sempre envolve imensas perdas e grave retrocesso civilizatório.
Se isso ocorrer, parcela substancial da culpa deve ser atribuída a quem a merece: os jornalistas.
As empresas jornalísticas praticam a política que interessa às corporações que são suas donas, pretendem a subida de um governo mais palatável ao financismo, mais aberto ao capital especulativo. Elas apelidaram isso de “mercado”. Porém, embora com culpa inarredável, não teriam a facilidade que têm não fosse a extrema leniência, subserviência mesmo, que os jornalistas empregados nesses veículos inacreditavelmente demonstram. Falta honra, falta vergonha na cara para os jornalistas.
Claro que todos temos medo de perder emprego, lógico que precisamos do ganha-pão. Existem momentos, contudo, em que valores mais elevados do que a mera superação da incerteza se impõem. Não se imagina que possa um médico empregado realizar uma cirurgia com bisturi enferrujado sob o descabido argumento de que seu patrão mandou.
Da mesma forma, não poderiam os jornalistas contratados estar compactuando, como em grande parcela estão, com uma ação confessadamente orquestrada pela grande imprensa no papel de oposição, o que violenta os mais elementares princípios da informação que deveriam pautar o jornalismo.
São cúmplices desse desvario político e serão, junto com seus patrões, culpados por toda e qualquer ruptura institucional ou social que eventualmente ocorrer. São co-autores desse crime de imprensa que está dirigindo a nação para conflitos impensados há poucos anos.
No mínimo, repúdios diários das associações e dos sindicatos de jornalistas deveriam ser publicados, a cada manchete nitidamente tendenciosa. Os professores e estudantes das faculdades de jornalismo deveriam mobilizar-se maciçamente em eventos públicos que demonstrassem, de forma inequívoca, que a classe não compactua com os objetivos das empresas jornalísticas.
Todavia, afora exemplos admiráveis de jornalistas desvinculados das grandes empresas, muitos atuando no que orgulhosamente chamam de “blogs sujos”, o que se vê é timidez, é silêncio da classe. Isso tem nome: trata-se de compactuar por omissão.
E e a partir dessa omissão, o Brasil, um país historicamente pacífico e reconhecido por essa natureza de tranquilidade social, aos poucos vai se metamorfoseando numa espécie de Bósnia da década de 1990 ou com outros países cujos profundos conflitos sociais resultaram em facções da população se auto-digladiando em busca do poder ao preço da própria destruição e da ruína do próprio país. Aos vencedores, os escombros.
Hoje, ainda nos encontramos num estágio mais brando. O que vemos é um indivíduo se achar no direito de vociferar agressões verbais a um ator que, na condição de pessoa comum e acompanhado de sua mulher, tentava fazer uma refeição num restaurante, somente porque esse ator declarou apoio a candidatura petista.
Nesse momento, a violência física chegou “apenas” à inacreditável agressão de um cadeirante que, nas ruas, exercia o seu direito constitucional de militar politicamente, sendo jogado ao chão por um descerebrado por usar um broche do partido no peito e uma bandeira na mão.
Ainda estamos num estágio incipiente (e insipiente) em que um artista, mais famoso por ter passagens na polícia do que pela arte que exerce, ao invés de simplesmente pedir votos para o candidato que apoia, entende-se no direito de atacar um colega de profissão, denominando-o de “marginal” e “acéfalo”, simplesmente por discordar da opção eleitoral do artista que agride.
Esse é o nível em que estamos atualmente. Amanhã, porém, petistas e anti-petistas poderão ser obrigados a se entricheirar em condomínios e quarteirões onde viverão livres da presença incômoda da democrática voz dissonante, mas presos no próprio espaço em que se confinaram.
Felizmente, ainda estamos longe disso. Por ora os conflitos ocorrem mais pesadamente em ambiente eleitoral. Porém, se lembrarmos que até pouco não era assim e que a escalada da violência vem progressivamente aumentando, já extrapolando do limite verbal para o físico, não há porque imaginar que um conflito interno mais grave não possa ocorrer no futuro.
Hoje agridem petistas, amanhã os petistas revidarão e isso conduzirá ao caos. Novamente invocando Marcelo Semer, o namoro com o estado policial pode ser entendido no presente como uma opção eleitoral, porém, sair dele no futuro, nunca será. Desse namoro resulta inescapável casamento compulsório do qual não se pode libertar sem muita dor, sem muito sofrimento, sem muita perda.
Essa é a responsabilidade que imputo à imprensa e, principalmente, aos jornalistas.
O abismo que está se aprofundando não resultou da queda de um imprevisível meteoro social. Ela é fruto inevitável do incansável trabalho da impensa na prática da escandalização de um lado só, das distorções da realidade, da manipulação da verdade, da ocultação criminosa de tudo que seja entendido como positivo, da disseminação da falsa ideia de que todos os problemas do Brasil possuem apenas um só nome e uma só coloração.
Enfim, o acirramento político e a escalada de violência que se testemunha é o filho degenerado de um posicionamento orgulhosamente assumido pela imprensa na voz da presidente da Associação Nacional de Jornais, Judith Brito, da Folha de São Paulo, que, em entrevista ao jornal O Globo, não teve qualquer pudor em confessar que, ante a fragilização da oposição no Brasil, cabia aos meios de comunicação ocupar a posição oposicionista no país.
É preciso que os ânimos sejam serenados e que os eleitores que não desejam o PT governando entendam, de uma vez por todas, que esse partido foi alçado e vem sendo mantido no poder através de eleições realizadas de forma absolutamente democrática e que, se tiver que sair do poder, e não tenham dúvidas de que sairá um dia, esse caminho necessariamente deve passar pelo mesmo itinerário do convencimento pacífico e democrático, necessariamente pela sufragação nas urnas.
Creiam, a opção é muito pior.
Os eleitores do PT já deram demonstrações sobejas de que são mais orgânicos e militantes do que os simpatizantes dos outros grandes partidos. Eles são milhões e representam uma parcela significativa do país, quase um terço, e não podem, simplesmente, ser calados, manietados ou impedidos de escolher pelo voto os mandatários da nação. Não cabe a pretensão elitista de silenciar os nordestinos ou os cidadãos que recebem benefícios sociais.
O regime político brasileiro ainda não é, e espero que nunca seja, totalitário, ditatorial, embora aparentemente muitos assim desejem.
A cada cidadão um voto e que prevaleça a democracia.
Essa é a única maneira de evitar uma convulsão social.
Esse deve ser o objetivo de cada jornalista brasileiro que entenda o poder que a manchete possui na estruturação do tecido social, no direcionamento da pauta de discussões públicas, na determinação dos sentimentos sociais capazes de conduzir para um lado, pacífico e desejado, ou para o outro, radicalizado e trágico.
Até aqui, a irresponsabilidade dos jornalistas, entendidos como classe, imperou.
É por isso, jornalistas, que eu os acuso!
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Contra a censura de Aécio, jornalistas mineiros declaram apoio a Dilma
Cerca de 100 jornalistas de diversos veículos de comunicação, intelectuais e educadores mineiros reuniram-se nesta quarta-feira (15), em Belo Horizonte, para denunciar a ofensiva promovida pelas sucessivas gestões tucanas em Minas Gerais contra a liberdade de imprensa e a democracia.
Por Marina Viel, da Redação do Vermelho-Minas
Julia Lanari
Kerison Lopes, presidente do SJPMG, afirma que denúncias de jornalistas se intensificaram no segundo turno.
Alvo de constantes denúncias de censura e de perseguição a profissionais de imprensa, as administrações tucanas dos ex-governadores Aécio Neves e Antônio Anastasia e do atual governador Alberto Pinto Coelho foram aclamadas como antidemocráticas. Práticas como a demissão de jornalistas, a edição e publicação de matérias que não condizem com a realidade apurada nas ruas pelos profissionais e o descumprimento do Código de Ética foram relatadas como práticas comuns nas redações dos veículos de comunicação do estado.Os jornalistas fizeram um chamamento nacional pela derrota nas urnas do candidato à Presidência da República, Aécio Neves, em nome da liberdade. Para os profissionais de imprensa a reeleição da presidenta Dilma Rousseff é imprescindível para assegurar que o Brasil não siga o caminho do obscurantismo e da censura praticado nos últimos 12 anos no estado.
Os profissionais denunciaram também o conluio explícito entre o governo e os principais jornais mineiros. Uma série de orientações e uma lista de temas e fontes proibidas em matérias políticas regeu os principais veículos de imprensa nos últimos anos. Andrea Neves, irmã do presidenciável tucano, foi citada pelos jornalistas como uma das grandes expoentes do controle do governo tucano sobre o conteúdo das notícias.
O presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), Kerison Lopes, afirmou que neste segundo turno das eleições os princípios constitucionais da liberdade de expressão nas redações mineiras alcançaram um nível intolerável. “O Sindicato recebe inúmeras denúncias sobre o que aconteceu nos primeiros 10 dias do segundo turno. Nós mineiros temos que mostrar quem é Aécio Neves e os jornalistas têm um compromisso ainda maior. Devemos lutar para que a liberdade de imprensa e para que a verdade das ruas voltem às páginas dos nossos jornais.”
Recentemente, o jornal Estado de Minas, do grupo Diário dos Associados, convocou seus funcionários, através de sua intranet, para a participação de uma caminhada a favor do candidato Aécio Neves. A “convocação” chegava ao absurdo de orientar os jornalistas a vestir as cores azul ou amarelo, do PSDB.
Em nota pública, o SJPMG e o Sindicato dos Empregados da Administração das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas de Belo Horizonte esclareceram que nenhum trabalhador pode ser obrigado a participar de ato de campanha de nenhum candidato a cargo eletivo.
O ex-presidente do SJPMG, Aloísio Lopes, reafirmou que o maior compromisso dos jornalistas mineiros é com a liberdade. Ele falou do constrangimento e do assédio moral contra os jornalistas. Aloísio relatou ainda que outra prática do tucanato em Minas foi varrer das páginas dos jornais o movimento social. Ele citou manifestações promovidas pelo Sindicato Único dosTrabalhadores em Educação de Minas Gerais (SindUTE) e a greve da polícia que foi escondida pela imprensa mineira a mando dos governos do PSDB.
O encontro exaltou ainda a heroica resistência de muitos profissionais mineiros que não cedem às pressões dos veículos em que trabalham e lutam cotidianamente para, nas entrelinhas de suas matérias, divulgar a verdade. Os jornalistas também ressaltaram a necessidade de o governo federal enfrentar nacionalmente o debate sobre a regulação da mídia a fim de garantir que os episódios que marcaram a imprensa mineira não se repitam nunca mais.
Leiam abaixo a íntegra da nota aprovada pelos jornalistas de Minas Gerais:
Alerta ao Povo Brasileiro
Nós, jornalistas mineiros reunidos na noite de 15 de outubro de 2014, em Belo Horizonte, vimos manifestar à sociedade brasileira as nossas apreensões quanto ao grave momento vivido pelo país às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais:
1. Estarrecida, a opinião pública mineira e brasileira deparou-se nos últimos meses com uma escalada da cobertura jornalística das eleições pelos meios de comunicação em claro favorecimento de candidaturas à Presidência da República, seja por meio da manipulação de informações políticas e econômicas, seja pela concessão de espaços generosos a um candidato em detrimento dos outros. Tais fatos, públicos e notórios, são sobejamente atestados por instituições de pesquisa e monitoramento da mídia, revelando uma tentativa de corromper a opinião pública e de decidir o resultado das urnas.
2. Infelizmente, tais práticas antidemocráticas, que atentam contra os princípios constitucionais da liberdade de expressão e manifestação e do direito à informação, fizeram parte do cotidiano da comunicação em Minas Gerais, atingindo nível intolerável nos governos de Aécio Neves. A atividade jornalística e a atuação dos profissionais foram diretamente atingidas pelo conluio explícito estabelecido entre o governo e os veículos de comunicação, com pressão sobre os jornalistas e a queda brutal da qualidade das informações prestadas ao cidadão mineiro sobre as atividades do governo. Tais pressões provocaram censura e mesmo demissões de profissionais e uma permanente tensão nas redações. E quebraram as históricas vocações e compromissos de Minas com a liberdade de pensamento e de ideias, traços distintivos da formação e das tradições históricas do estado.
3. Diante do exposto e por dever do ofício, nós, jornalistas mineiros, alertamos a sociedade brasileira sobre os riscos que tais práticas representam para a Democracia, para o Estado de Direito e para os direitos individuais e políticos dos cidadãos. Reafirmamos que a essência da atividade do jornalista é a liberdade de expressão e manifestação, assegurando o direito da sociedade à informação, livre e plena.
Belo Horizonte, 15 de outubro de 2014
quinta-feira, 16 de outubro de 2014
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Noblat confirma: Dilma bate em Aécio!
Por Altamiro Borges
O debate da Band desta terça-feira (14) continua gerando polêmica nas redes sociais. A mídia tradicional, descaradamente tucana, garante que não houve vencedores. Já os ativistas digitais contra-hegemônicos festejam o desempenho de Dilma Rousseff, que teria dado uma surra no cambaleante Aécio Neves. Nesta controvérsia, porém, uma opinião me chamou a atenção. O jornalista Ricardo Noblat, famoso por sua absoluta independência e por não torcer por nenhum dos lados, decreta em seu blog hospedado no imparcial O Globo: “Dilma venceu Aécio no debate da Rede Bandeirantes”. Os seus fieis leitores, que fazem parte da gente informada de FHC, devem ter ficado muito irritados com esta confissão.
O neutro blogueiro da famiglia Marinho afirma que “Dilma conseguiu enfrentar Aécio de igual para igual” e superou até o seu “raciocínio confuso”. Imparcial e generoso, ele ainda questiona: “Onde estava a Dilma que não consegue dizer algo com começo, meio e fim? Surpreendentemente ficou em casa. Onde estava a Dilma que aprecia citar um monte de números? Recebeu uma lavagem cerebral e esqueceu os números. Aécio não esteve mal. Apenas foi surpreendido por uma Dilma que fez direitinho seu dever de casa com o marqueteiro João Santana”. Não há nestas singelas perguntas e respostas nada de machismo ou de torcida! Como sempre, Noblat é um exemplo da imparcialidade no jornalismo nativo!
Para o serviçal do Grupo Globo, a presidenta venceu porque foi mais incisiva e direta. “Chamar Dilma de leviana ou de mentirosa não acrescenta votos a Aécio. Pode até soar como indelicadeza aos ouvidos mais sensíveis. Dizer que Aécio empregou os parentes quando governou Minas é uma coisa que todo mundo entende e pode guardar na memória. Dizer que ele responde a processo por improbidade administrativa, também. Enumerar os escândalos do governo de Fernando Henrique que ficaram impunes, idem. Dilma sapecou em Aécio acusações de forte apelo popular. A recíproca não foi verdadeira”. Para ele, que não “torce por um lado ou pelo outro”, Dilma deu uma surra no tucano!
***
Em tempo: Noblat só não comentou o constrangimento do tucano quando a presidenta lhe perguntou sobre a violência contra as mulheres. De imediato, nas redes sociais, muitos ativistas lembraram que Aécio Neves já foi acusado de bater na namorada. No debate da Band, quem apanhou foi o playboy mineiro-carioca. Para refrescar a memória sobre este caso, que logo foi abafado pela mídia tucana imparcial e neutra, reproduzo abaixo trechos de uma reportagem publicada no jornal Hora Povo, quando este veículo tinha uma postura mais lúcida e combativa nos embates políticos:
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O debate da Band desta terça-feira (14) continua gerando polêmica nas redes sociais. A mídia tradicional, descaradamente tucana, garante que não houve vencedores. Já os ativistas digitais contra-hegemônicos festejam o desempenho de Dilma Rousseff, que teria dado uma surra no cambaleante Aécio Neves. Nesta controvérsia, porém, uma opinião me chamou a atenção. O jornalista Ricardo Noblat, famoso por sua absoluta independência e por não torcer por nenhum dos lados, decreta em seu blog hospedado no imparcial O Globo: “Dilma venceu Aécio no debate da Rede Bandeirantes”. Os seus fieis leitores, que fazem parte da gente informada de FHC, devem ter ficado muito irritados com esta confissão.
O neutro blogueiro da famiglia Marinho afirma que “Dilma conseguiu enfrentar Aécio de igual para igual” e superou até o seu “raciocínio confuso”. Imparcial e generoso, ele ainda questiona: “Onde estava a Dilma que não consegue dizer algo com começo, meio e fim? Surpreendentemente ficou em casa. Onde estava a Dilma que aprecia citar um monte de números? Recebeu uma lavagem cerebral e esqueceu os números. Aécio não esteve mal. Apenas foi surpreendido por uma Dilma que fez direitinho seu dever de casa com o marqueteiro João Santana”. Não há nestas singelas perguntas e respostas nada de machismo ou de torcida! Como sempre, Noblat é um exemplo da imparcialidade no jornalismo nativo!
Para o serviçal do Grupo Globo, a presidenta venceu porque foi mais incisiva e direta. “Chamar Dilma de leviana ou de mentirosa não acrescenta votos a Aécio. Pode até soar como indelicadeza aos ouvidos mais sensíveis. Dizer que Aécio empregou os parentes quando governou Minas é uma coisa que todo mundo entende e pode guardar na memória. Dizer que ele responde a processo por improbidade administrativa, também. Enumerar os escândalos do governo de Fernando Henrique que ficaram impunes, idem. Dilma sapecou em Aécio acusações de forte apelo popular. A recíproca não foi verdadeira”. Para ele, que não “torce por um lado ou pelo outro”, Dilma deu uma surra no tucano!
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Em tempo: Noblat só não comentou o constrangimento do tucano quando a presidenta lhe perguntou sobre a violência contra as mulheres. De imediato, nas redes sociais, muitos ativistas lembraram que Aécio Neves já foi acusado de bater na namorada. No debate da Band, quem apanhou foi o playboy mineiro-carioca. Para refrescar a memória sobre este caso, que logo foi abafado pela mídia tucana imparcial e neutra, reproduzo abaixo trechos de uma reportagem publicada no jornal Hora Povo, quando este veículo tinha uma postura mais lúcida e combativa nos embates políticos:
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Governador de Minas agride namorada em festa de luxo
Hora do Povo, 04/11/2009
A moça recebeu a pancada, caiu, revidou e depois cada um foi para um lado, dizem testemunhas
Uma das testemunhas oculares da agressão perpetrada pelo governador Aécio Neves no domingo, 25 de outubro, em meio a uma festa promovida por um estilista da Calvin Klein no Hotel Fasano, do Rio de Janeiro, descreveu a cena da seguinte forma:
“Visivelmente alterado, ele deu um tapa na moça que o acompanhava - namorada dele há algum tempo. Ela caiu no chão, levantou e revidou a agressão. A plateia era grande e alguns chegaram a separar o casal para apartar a briga. O clima, claro, ficou muito pesado”.
Imagine o leitor que essa testemunha ocular é a colunista social Joyce Pascowitch, que, de repente, sem que desejasse tal metamorfose, passou de cronista de grã-finos a repórter policial. A nota de Joyce Pascowitch é intitulada “Nelson Rodrigues”, em referência ao teatrólogo que pregava que “mulher gosta de apanhar”.
A colunista social não revelou o nome do agressor. Disse que era “um dos convidados mais importantes e famosos da festa que o estilista Francisco Costa, da Calvin Klein, deu na piscina do hotel Fasano, no Rio, nesse domingo”. Embora, pelo encadeamento das notas sobre a festa, em seu blog, fosse mais ou menos claro quem era o sujeito.
Dias depois, Juca Kfouri, em nota intitulada “Covardia de Aécio Neves”, foi direto:
“Aécio Neves, o governador tucano de Minas Gerais, que luta para ter o jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014, em Belo Horizonte, deu um empurrão e um tapa em sua acompanhante no domingo passado, numa festa da Calvin Klein, no Hotel Fasano, no Rio. Depois do incidente, segundo diversas testemunhas, cada um foi para um lado, diante do constrangimento geral”.
Depois de pregar que “a imprensa brasileira não pode repetir com nenhum candidato a candidato a presidência da República a cortina de silêncio que cercou Fernando Collor [e o Fernando Henrique?], embora seus hábitos fossem conhecidos”, Kfouri fez a seguinte anotação: “... o blog recebeu nota da assessoria de imprensa do governo mineiro desmentindo a informação e a considerando caluniosa. O blog a mantém inalterada”. A agredida foi Leticia Weber, uma modelo de 24 anos.
Hora do Povo, 04/11/2009
A moça recebeu a pancada, caiu, revidou e depois cada um foi para um lado, dizem testemunhas
Uma das testemunhas oculares da agressão perpetrada pelo governador Aécio Neves no domingo, 25 de outubro, em meio a uma festa promovida por um estilista da Calvin Klein no Hotel Fasano, do Rio de Janeiro, descreveu a cena da seguinte forma:
“Visivelmente alterado, ele deu um tapa na moça que o acompanhava - namorada dele há algum tempo. Ela caiu no chão, levantou e revidou a agressão. A plateia era grande e alguns chegaram a separar o casal para apartar a briga. O clima, claro, ficou muito pesado”.
Imagine o leitor que essa testemunha ocular é a colunista social Joyce Pascowitch, que, de repente, sem que desejasse tal metamorfose, passou de cronista de grã-finos a repórter policial. A nota de Joyce Pascowitch é intitulada “Nelson Rodrigues”, em referência ao teatrólogo que pregava que “mulher gosta de apanhar”.
A colunista social não revelou o nome do agressor. Disse que era “um dos convidados mais importantes e famosos da festa que o estilista Francisco Costa, da Calvin Klein, deu na piscina do hotel Fasano, no Rio, nesse domingo”. Embora, pelo encadeamento das notas sobre a festa, em seu blog, fosse mais ou menos claro quem era o sujeito.
Dias depois, Juca Kfouri, em nota intitulada “Covardia de Aécio Neves”, foi direto:
“Aécio Neves, o governador tucano de Minas Gerais, que luta para ter o jogo inaugural da Copa do Mundo de 2014, em Belo Horizonte, deu um empurrão e um tapa em sua acompanhante no domingo passado, numa festa da Calvin Klein, no Hotel Fasano, no Rio. Depois do incidente, segundo diversas testemunhas, cada um foi para um lado, diante do constrangimento geral”.
Depois de pregar que “a imprensa brasileira não pode repetir com nenhum candidato a candidato a presidência da República a cortina de silêncio que cercou Fernando Collor [e o Fernando Henrique?], embora seus hábitos fossem conhecidos”, Kfouri fez a seguinte anotação: “... o blog recebeu nota da assessoria de imprensa do governo mineiro desmentindo a informação e a considerando caluniosa. O blog a mantém inalterada”. A agredida foi Leticia Weber, uma modelo de 24 anos.
(...)
A questão é que Serra, Aécio, Fernando Henrique, esse tipo de gente, não é capaz de amar ninguém. São todos uns narcisistas doentios. Byron disse uma vez que quem não ama a sua pátria, não ama coisa alguma. Com os tucanos da cúpula, o caminho é inverso: eles não amam a pátria porque não amam ninguém. Um, já presidente da República, tratava a mulher, nos papos com um proxeneta, como “megera”. Outro, governador do segundo ou terceiro Estado do país, senta a mão na namorada, a ponto dela cair no chão, no meio de uma festa, sem se importar com a seleta assistência ou sem conseguir se conter mesmo diante de tal público.
Serra, o que passa álcool nas mãos depois de cumprimentar alguém do povo, até agora, que se saiba, não bateu na mulher. Apenas, segundo seu ex-amigo Flávio Bierrenbach, agora ministro aposentado do Superior Tribunal Militar, “Serra entrou pobre na Secretaria de Planejamento do Governo Montoro e saiu rico. Ele usa o poder de forma cruel, corrupta e prepotente. Poucos o conhecem. Engana muita gente. Prejudicou a muitos dos seus companheiros. Uma ambição sem limite. Uma sede de poder sem nenhum freio”.
Não por coincidência, são os mesmos que liquidaram o patrimônio brasileiro, devastaram a economia nacional e infelicitaram milhões de pessoas. Todos eles, aliás, sempre pregaram que sua vida pública é tão imaculada quanto sua vida privada, apesar de uma nada ter a ver com a outra. Caifás, o sumo sacerdote dos fariseus, era um São Francisco perto dessa espécie de gente.
O fato que hoje comentamos, certamente só teria a importância que leva a um boletim de ocorrência na delegacia, e a fazer o agressor sentar no banco dos réus, se o indigitado não fosse governador de Minas e pré-candidato a presidente do PSDB.
E se não fosse o abafamento completo do fato pela mídia, com as duas exceções que registramos – e apenas em seus blogs.
Obviamente, eles nunca vão ver Lula praticando um ato semelhante. Isso é negócio de janotas transviados, desses que abundam no PSDB. Mas, só para raciocinar, imaginemos que isso acontecesse com alguém do governo ou um apoiador do governo. Há alguma dúvida sobre o carnaval que ia ser aprontado ao redor do fato?
Não é uma surpresa que a mídia serrista também haja aderido ao abafamento. Eles sabem que o cachação de Aécio na namorada não é um problema só para Aécio. Afinal, ele está muito bem acolhido dentro do PSDB – não há nada em Aécio que destoe do conjunto da cúpula tucana.
Não por coincidência, são os mesmos que liquidaram o patrimônio brasileiro, devastaram a economia nacional e infelicitaram milhões de pessoas. Todos eles, aliás, sempre pregaram que sua vida pública é tão imaculada quanto sua vida privada, apesar de uma nada ter a ver com a outra. Caifás, o sumo sacerdote dos fariseus, era um São Francisco perto dessa espécie de gente.
O fato que hoje comentamos, certamente só teria a importância que leva a um boletim de ocorrência na delegacia, e a fazer o agressor sentar no banco dos réus, se o indigitado não fosse governador de Minas e pré-candidato a presidente do PSDB.
E se não fosse o abafamento completo do fato pela mídia, com as duas exceções que registramos – e apenas em seus blogs.
Obviamente, eles nunca vão ver Lula praticando um ato semelhante. Isso é negócio de janotas transviados, desses que abundam no PSDB. Mas, só para raciocinar, imaginemos que isso acontecesse com alguém do governo ou um apoiador do governo. Há alguma dúvida sobre o carnaval que ia ser aprontado ao redor do fato?
Não é uma surpresa que a mídia serrista também haja aderido ao abafamento. Eles sabem que o cachação de Aécio na namorada não é um problema só para Aécio. Afinal, ele está muito bem acolhido dentro do PSDB – não há nada em Aécio que destoe do conjunto da cúpula tucana.
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Leia também:
Será que o povo de SP vai cobrar da mídia que o levou a votar errado
Falta de água e estelionato eleitoral
Por Altamiro Borges
Passado o primeiro turno das eleições, a mídia “privada” – nos dois sentidos da palavra – começa a dar maior atenção à grave crise da água em São Paulo. Ela já fez o trabalho sujo, ludibriando a sociedade e ajudando a reeleger o governador Geraldo Alckmin (PSDB), e agora tenta retomar alguma credibilidade. Manifestações começam a pipocar na região metropolitana contra a falta de planejamento e de investimentos dos tucanos – que comandam o Estado há duas décadas – neste setor vital para a população. Algumas delas até poderiam ser dirigidas às sedes dos jornalões e das emissoras de rádio e televisão. Afinal, o PSDB e a mídia chapa-branca cometeram um verdadeiro estelionato eleitoral, um crime sem perdão!
Nesta quinta-feira (15), a Folha publicou um editorial em que abusa da inteligência de seus leitores – alguns ainda possuem senso crítico, imagino! Na maior caradura, o jornalão faz, pela primeira vez, duras críticas aos governos do PSDB. Segundo o jornalão, os relatos sobre a falta de água se multiplicam e não dá mais para o governador botar a culpa em São Pedro. “A estiagem recorde e o calor atípico talvez possam ser atribuídos às mudanças climáticas. O grave risco de desabastecimento da Grande São Paulo, entretanto, deve-se a outro fenômeno: a incúria das sucessivas gestões tucanas que comandam o Estado desde 1995”. Haja cinismo! A Folha só chegou a esta conclusão após ajudar a reeleger Geraldo Alckmin!
Durante toda a campanha eleitoral, o diário da famiglia Frias e o restante da mídia ignoraram os alertas sobre o crime do PSDB. Agora, porém, o editorial informa seus leitores: “Nessas duas décadas, o governo deveria ter avançado muito mais na proteção de mananciais e no tratamento de esgoto e dejetos industriais, bem como na redução do desperdício com produção e consumo hídrico. Isso sem mencionar a medida mais óbvia de todas: o aumento da capacidade de reservação. Desde 2011, pelo menos, a Sabesp reconhece a necessidade de reforçar o abastecimento da região metropolitana da capital. Há mais tempo especialistas no tema chamam a atenção para a insegurança hídrica do Estado”.
Todos estes alertas foram ignorados pelo governador Geraldo Alckmin, afirma a Folha. Só faltou ela confessar que preferiu esconder estes alertas para ajudar o tucano. Agora, as notícias sobre a falta de água se generalizam e a revolta cresce. E a situação ainda tende a se agravar. Na semana passada, a Justiça determinou que a segunda cota do chamado “volume morto” do Sistema Cantareira seja usada só em dezembro. “As reservas atuais podem se exaurir dez dias antes”, afirma, desesperada, a Folha. “Ainda assim, Geraldo Alckmin esquiva-se de informar a sociedade sobre os reais problemas que, segundo todas as evidências, os paulistas precisarão enfrentar, cedo ou tarde”.
Ou seja: confirma-se o estelionato eleitoral praticado pelos tucanos e por sua mídia chapa-branca! Os protestos contra este crime, que penalizará os paulistas, poderiam ser agendados para o Palácio dos Bandeirantes e também para as sedes de alguns veículos deste jornalismo do esgoto!
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Em tempo: Tentando ressuscitar o seu falso ecletismo, que ainda engana muitos ingênuos, a mesma Folha publicou nesta quarta-feira artigo de opinião do vereador Nabil Bonduki que ajuda a entender as causas reais da crise de água em São Paulo. Reproduzo-o abaixo:
Em tempo: Tentando ressuscitar o seu falso ecletismo, que ainda engana muitos ingênuos, a mesma Folha publicou nesta quarta-feira artigo de opinião do vereador Nabil Bonduki que ajuda a entender as causas reais da crise de água em São Paulo. Reproduzo-o abaixo:
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Folha 15 de outubro de 2014
NABIL BONDUKI
TENDÊNCIAS/DEBATES
A responsabilidade pela crise da água
A crise não é resultado apenas de uma seca sem precedentes. Vem sendo anunciada desde 2010, mas a Sabesp vendeu mais água do que poderia
Para não tomar medidas impopulares em período eleitoral, o governo Geraldo Alckmin tem deixado de adotar providências indispensáveis para enfrentar o estresse hídrico que afeta o Estado de São Paulo. De forma irresponsável, está criando o que pode vir a ser uma calamidade pública nas regiões de São Paulo e Campinas, onde vivem cerca de 25 milhões de cidadãos e onde se gera 23% do PIB nacional.
O nível do sistema Cantareira, que atendia 8,8 milhões de habitantes só na região metropolitana de São Paulo, caiu a 4,5%. Em um mês poderá estar zerado. O sistema Alto Tietê, que atendia 3,5 milhões de moradores, está abaixo de 11% da sua capacidade. Mesmo que as chuvas de verão venham dentro da média histórica, a recuperação das represas será tímida.
Estima-se que, se os índices pluviométricos ficarem na média histórica, em 2015 a situação estará pior do que em 2014. Se chover menos que a média, faltará água e o racionamento, que vem sendo adiado por motivos eleitorais, embora metade dos paulistanos sofram com cortes não comunicados, terá que ser rigoroso. Não existe, ou não foi anunciado, um plano de contingência para essa possibilidade.
A crise não é apenas resultado de uma seca sem precedentes. Estava anunciada desde 2010, mas a Sabesp, raciocinando como empresa privada, vendeu mais água do que poderia. Relatório da própria empresa, de 2011, afirma que ela estava retirando do sistema mais água do que repunha.
Depois de passar anos sem promover campanhas educativas de peso para difundir o uso sustentável da água, as decisões da gestão Alckmin foram pautadas pela lógica do lucro e pelas eleições. Embora tente passar uma imagem de tranquilidade, a questão é mais profunda.
Assim, em depoimento na CPI na Câmara Municipal que investiga a crise hídrica, a presidente da Sabesp, Dilma Pena, afirmou, com a arrogância dos "sábios", que a seca do verão de 2014 só ocorrerá daqui a 3.338 anos, desconsiderando os efeitos devastadores das mudanças climáticas.
A Sabesp, semiprivatizada, está mais preocupada em vender água e distribuir dividendos do que promover o uso racional de um bem escasso. Nos últimos cinco anos, seu lucro líquido foi R$ 8,2 bilhões, dos quais R$ 2,5 bilhões foram distribuídos aos seus acionistas.
Ademais, a Sabesp fracassou em medidas estruturais, como na redução das perdas causadas por ineficiências. Entre 2009 e 2014, a empresa investiu R$ 1,1 bilhão no Programa de Redução de Perdas, mas o resultado foi insignificante: segundo dados apresentados por Pena, entre 2009 e 2013, o índice de perdas de micromedição caiu de 31,4% para 30,4%; o índice de perdas físicas, de 20,4% para 19,8%.
Reportagens publicadas no "Jornal da Tarde" e na "Carta Capital" mostraram que as empresas contratadas para a execução desse programa são de propriedade de ex-diretores da própria Sabesp, suspeitando-se de fortes ligações com o PSDB.
Já que a Assembleia Legislativa não investiga e que inexiste controle social na Sabesp, a CPI em curso na Câmara Municipal é uma oportunidade para desvendar a caixa- -preta que está por trás da crise hídrica que afeta os paulistas.
NABIL BONDUKI, 58, arquiteto e urbanista, professor titular de planejamento urbano na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, é vereador (PT) e membro da CPI da Sabesp.
Folha 15 de outubro de 2014
NABIL BONDUKI
TENDÊNCIAS/DEBATES
A responsabilidade pela crise da água
A crise não é resultado apenas de uma seca sem precedentes. Vem sendo anunciada desde 2010, mas a Sabesp vendeu mais água do que poderia
Para não tomar medidas impopulares em período eleitoral, o governo Geraldo Alckmin tem deixado de adotar providências indispensáveis para enfrentar o estresse hídrico que afeta o Estado de São Paulo. De forma irresponsável, está criando o que pode vir a ser uma calamidade pública nas regiões de São Paulo e Campinas, onde vivem cerca de 25 milhões de cidadãos e onde se gera 23% do PIB nacional.
O nível do sistema Cantareira, que atendia 8,8 milhões de habitantes só na região metropolitana de São Paulo, caiu a 4,5%. Em um mês poderá estar zerado. O sistema Alto Tietê, que atendia 3,5 milhões de moradores, está abaixo de 11% da sua capacidade. Mesmo que as chuvas de verão venham dentro da média histórica, a recuperação das represas será tímida.
Estima-se que, se os índices pluviométricos ficarem na média histórica, em 2015 a situação estará pior do que em 2014. Se chover menos que a média, faltará água e o racionamento, que vem sendo adiado por motivos eleitorais, embora metade dos paulistanos sofram com cortes não comunicados, terá que ser rigoroso. Não existe, ou não foi anunciado, um plano de contingência para essa possibilidade.
A crise não é apenas resultado de uma seca sem precedentes. Estava anunciada desde 2010, mas a Sabesp, raciocinando como empresa privada, vendeu mais água do que poderia. Relatório da própria empresa, de 2011, afirma que ela estava retirando do sistema mais água do que repunha.
Depois de passar anos sem promover campanhas educativas de peso para difundir o uso sustentável da água, as decisões da gestão Alckmin foram pautadas pela lógica do lucro e pelas eleições. Embora tente passar uma imagem de tranquilidade, a questão é mais profunda.
Assim, em depoimento na CPI na Câmara Municipal que investiga a crise hídrica, a presidente da Sabesp, Dilma Pena, afirmou, com a arrogância dos "sábios", que a seca do verão de 2014 só ocorrerá daqui a 3.338 anos, desconsiderando os efeitos devastadores das mudanças climáticas.
A Sabesp, semiprivatizada, está mais preocupada em vender água e distribuir dividendos do que promover o uso racional de um bem escasso. Nos últimos cinco anos, seu lucro líquido foi R$ 8,2 bilhões, dos quais R$ 2,5 bilhões foram distribuídos aos seus acionistas.
Ademais, a Sabesp fracassou em medidas estruturais, como na redução das perdas causadas por ineficiências. Entre 2009 e 2014, a empresa investiu R$ 1,1 bilhão no Programa de Redução de Perdas, mas o resultado foi insignificante: segundo dados apresentados por Pena, entre 2009 e 2013, o índice de perdas de micromedição caiu de 31,4% para 30,4%; o índice de perdas físicas, de 20,4% para 19,8%.
Reportagens publicadas no "Jornal da Tarde" e na "Carta Capital" mostraram que as empresas contratadas para a execução desse programa são de propriedade de ex-diretores da própria Sabesp, suspeitando-se de fortes ligações com o PSDB.
Já que a Assembleia Legislativa não investiga e que inexiste controle social na Sabesp, a CPI em curso na Câmara Municipal é uma oportunidade para desvendar a caixa- -preta que está por trás da crise hídrica que afeta os paulistas.
NABIL BONDUKI, 58, arquiteto e urbanista, professor titular de planejamento urbano na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, é vereador (PT) e membro da CPI da Sabesp.
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Xico Sá e o rabo preso da Folha
Por Altamiro Borges
“Phoda-se o PT, a merda é que não há a mínima manchete contra os outros. Ai tá a putaria jornalística e eu, lá de dentro, sei cuma funciona”, postou. “Amo encher a boca e dizer IMPRENSA BURGUESA. É que só há um lado a fuder, nisso é desonesta, escrota, fdp. Por que não investigar todos?”. “Nego acha que por trabalhar na imprensa burguesa desde os 18 anos não posso ser contra a orientação política dos chefes. Oxi, ai que devo ser mesmo”. “Um dia ainda vou contar tudo que a imprensa não deixa sair se for contra a orientação política dos grandes jornais. Só podem os reinaldões, etc”, ameaçou, num crítica direta ao pitbull da Veja, Reinaldo Azevedo, que também é colunista da Folha.
O irreverente jornalista, com seu estilo próprio, ainda fez questão de enfatizar seu apoio a atual presidenta, reafirmando as posições expressas no texto censurado pela Folha. “Façam bonito, vocês são do jogo, mas o governo brasileiro foi muito importante para meu povo e eu estou com meu povo. Dilma é foda!”. E ainda: “Se fosse votar por você burguês, era Aécio até o talo; mas cuma prefiro votar pelo meu povo da porra e que necessita, é Dilma, carajo”. Xico Sá ainda fustigou o cambaleante presidenciável do PSDB: “Na boa, do fundo del corazón, cuma alguém pode votar em Aécio? Juro que não vou julgá-lo por nenhuma das 50 escrotidões que poderia julgá-lo”.
A explosão de Xico Sá, que expôs o “rabo preso” da Folha, teve imediata e ampla repercussão nas redes sociais. Os internautas se solidarizaram com o jornalista e criticaram a postura truculenta, ditatorial e hipócrita da Folha. Muitos lembraram que a maioria dos “calunistas” deste jornal faz campanha diária, aberta e agressiva contra a presidenta Dilma e não esconde que milita na “massa cheirosa tucana”. Até a presidenta Dilma Rousseff, em sua conta no Facebook, referiu-se ao lamentável episódio, manifestando solidariedade ao jornalista censurado.
A Folha ainda tentou abafar o caso. Mas, diante das repercussões negativas, publicou nesta quarta-feira (15) uma nota em que afirma que “a diretriz editorial da Folha, que consta do seu ‘Manual da Redação’, é a seguinte: ‘A Folha recomenda aos colunistas do jornal que evitem, nas suas colunas, proselitismo eleitoral ou declaração pública de voto, oferecendo àqueles que o considerarem relevante a possibilidade de publicar artigo na seção Tendências/Debates'. A restrição não se aplica a críticas a partidos, políticos e candidaturas”. Haja cinismo e manipulação! O jornal da famiglia Frias sempre teve o “rabo preso” com a direita, os golpistas e os ricaços.
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“Liberdade” da Folha só vale para o Reinaldo. É o jornal da piada pronta.
Autor: Fernando Britto
A demissão de Xico Sá da Folha, por se ver impedido de declarar sua opção eleitoral por Dilma em sua coluna no jornal é uma honra para o jornalismo brasileiro.
O veto à publicação da declaração de seu voto na coluna que mantinha há anos no jornal – onde militou muito tempo, talvez alguns não saibam, como repórter político, antes de se dedicar às crônicas de futebol e de costumes – só poderia ser aceito por quem fosse desprovido de um mínimo de dignidade, o que sobra a Xico.
O grande público que acompanhou sua participação do programaExtraordinários, durante a Copa do Mundo, sabe que ele, com bom humor e tolerância, jamais se calou diante da absurda tentativa de transformar os “coxismos” em “manifestação popular” e, já ali, dava seus trancos nas manifestações anti-nordestinos que, vemos agora, se tornaram um dos motes da direita.
Uma atitude destas, vinda de um jornal que traz para o lugar de colunista – como colunista é Xico – um energúmeno como Reinaldo Azevedo, é mais que uma hipócrita censura, é uma piada mórbida.
Porque é só assim que se pode ler a explicação do jornal de que os colunistas “”devem evitar fazer proselitismo eleitoral em seus textos”.
Os textos de Reinaldo Azevedo são o quê?
Fico com medo pelo emprego do José Simão, porque a direção da Folha parece ser adepta da “piada pronta”, bordão de seu simpático Macaco.
E olhem que, como ressalva o próprio Xico, em seu Facebook, “é bem melhor em se comparando aos outros jornalões, vide grande revelação do aeroporto privado de Aécio e o mínimo questionamento do choque de gestão nas Gerais, esse fetiche econômico insustentável até para a Velhinha de Taubaté do meu amigo Veríssimo. ”
Parabéns ao Xico, que mostrou que ainda existe o que em outros tempos sobrava no jornalismo: coragem e decência pessoal.
E que é capaz de definir, bem sucinto, o que se tem na mídia hoje: “É muito desequilíbrio. É praticamente jornalismo de campanha. Não cobertura.”.
Ainda dá tempo, São Paulo. Só metade do “golpe da água” foi dado
Moradores de São Paulo (e também os de Minas e do Rio de Janeiro) precisam saber o que está acontecendo.
A corrida de Geraldo Alckmin para iludir a população com aquela história de “a água está garantida até o final de 2015″ que Alckmin usava até a véspera da eleição de primeiro turno está desmoronando.
Não haverá chuvas fortes ainda esta semana e o calor não dará muita trégua.
De 1° de outubro para cá foram gastos 22 bilhões de litros do que resta. E o que resta, hoje, são 43,7 bilhões de litros.
É só fazer a conta, coisa que não parece ser ao gosto dos “jornalões” de São Paulo.
A imprensa paulista continua tratando “discretamente” o assunto, mas o fato que os números mostram é que até o dia 5 a Estação de Santa Inês, que trata a água que vem do Cantareira, recebe menos água: nos cinco primeiros dias de outubro, eram 21,64 mil litros de água por segundo; a média ontem já havia baixado para 20,55 mil litros por segundo.
Meu filho, que mora na Água Fria (eu brinco com ele, dizendo que o bairro vai mudar de nome para apenas “Fria”) tinha a água cortada, dois ou três dias por semana, depois das 2o horas.
Agora passou a ser todos os dias, após as 18 horas.
Isso na Zona Norte, ao pé da Serra da Cantareira.
Na Zona Oeste da cidade é ainda pior, como a Folha registra.
Em lugar de vir cortando pouco há meses, Alckmin optou por fingir que nada acontecia e deixou a situação chegar “no talo” para garantir votos.
Agora, São Paulo tem água para um mês, se São Pedro der uma “mãozinha”, o que não vem acontecendo.
Resta saber se São Paulo, até o segundo turno, vai perceber o que o PSDB fez com ele.
Com o povão, é claro, porque a turma “diferenciada” fica na seca, mas é Aécio.
Aliás, Alckmin conta com isso, porque com Aécio na presidência, fica mais fácil “sangrar” o já seco Paraíba do Sul para enfrentar a virada 2015/2016.
Aí, além de São Paulo, vamos ter crise também no Vale do Paraíba e no Rio, também.
Depois não reclamem dos quebra-quebras, não é?
Dilma acua Aécio em debate, e mostra força para reta final
Autor: Rodrigo Vianna
por Rodrigo Vianna
Vou falar de impressões apenas – sem pesquisas qualitativas, sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto. No primeiro bloco do debate da Band, Aécio estava mais solto. Mas Dilma cresceu na hora do confronto mano a mano. Especialmente, no segundo e no terceiro blocos.
Foi um debate tenso demais, com o país dividido como nunca. Isso talvez explique o meio sorriso que escapava da boca do candidato tucano desde os primeiros minutos. Poderia ser um sorriso para disfarçar o nervosismo. Mas conferia a Aécio Neves um certo ar de arrogância, de deboche – que não cai bem para quem almeja a presidência da República.
Dilma, por outro lado, mostrava a conhecida falta de fluência. Ela não é uma oradora. Nunca foi. Em alguns momentos, se atrapalhou para completar frases. Mas não é isso que a fará ganhar ou perder a eleição. Se assim fosse, Pedro Simon seria o presidente da República.
A minha colega Christina Lemos (sem paixões e com objetividade) talvez tenha definido bem a questão, no twitter: “Aécio, mais fluente, como sempre, mas sem resultados para apresentar.”
Sim, porque “fluência” não é o principal num debate televisivo. O principal é a capacidade de pautar temas. E de produzir motes que permaneçam nos dias seguintes. Nesse ponto, Dilma parece ter sido mais efetiva.
Em minha modesta opinião, duas coisas ficam desse debate…
1 No segundo bloco, o candidato do PSDB queria saber da corrupção da Petrobras, e mantinha ainda o tal sorriso irônico no rosto, quando Dilma – de forma aguda e surpreendente – trucou e perguntou sobre o aeroporto da cidade de Cláudio-MG (aquele, construído com dinheiro público dentro da fazenda de um tio do ex-governador tucano).
O sorriso de Aécio se desmanchou. Isso fica para o espectador. Aécio não chegou a ser nocauteado, mas pareceu zonzo durante alguns segundos. Isso foi visível no vídeo.
2 No mesmo bloco, a pergunta de Dilma sobre violência contra a mulher tinha endereço certo. E também tirou Aécio do prumo. O candidato do PSDB foi acusado publicamente – pelo jornalista Juca Kfouri (leia aqui) – de ter batido na namorada numa festança no Rio. Aécio jamais processou Juca por isso. De novo, Dilma fez a pergunta, e Aécio se desmanchou. Nesse caso, nem fechou o rosto, parecia ainda mais aturdido, temendo um golpe final.
Dilma não avançou o sinal. Poderia ter perguntado: “o senhor já acompanhou, em sua família, algum caso de agressão contra a mulher?” Não foi tão longe.
Mas a campanha de Dilma provavelmente sabe que a pergunta seria suficiente para pautar esse tema – “agressão contra a mulher” – na internet.
Essas duas perguntas foram o ponto alto do debate. As duas significaram golpes duríssimos contra o candidato que se apresenta como “novo” e “mudança”. Talvez uma parte do Brasil se pergunte: que mudança pode comandar um homem acusado de fatos tão graves?
Dilma – como já fizera em 2010 no debate da Band, com as denúncias sobre Paulo Preto e o enfrentamento da questão do aborto – pode ter pautado de novo o segundo turno de 2014.
Mandou dois recados certeiros:
- Aécio não tem moral pra falar em corrupção – vamos enfrentá-lo nesse quesito;
- os telhados de vidro do tucano não permitem que ele paute essa campanha com “moral e bons costumes”.
Claro que tucanos mais ferrenhos podem ter achado que Aécio (o “fluente”) foi o grande vitorioso. Mas o que Aécio deixou ao fim do debate? Ele que fala em “propostas” e “futuro”, o que propôs? Basicamente, a continuidade dos programas implantados por Dilma/Lula.
Uma análise honesta – ainda que pouco simpática ao tucano – deve reconhecer que ele não saiu do debate maior do que entrou. Por outro lado, não foi uma derrota completa.
Mas há uma diferença importante: a turma de Aécio começou a semana encomendando o paletó pra festa de posse. Os tucanos subiram no salto. Aécio chegou a falar em “meu ministro da Fazenda”. Dele se esperava um golpe final para garantir a vitória.
Dilma, ao contrário, foi para o debate com parte de sua militância preocupada, na dúvida sobre a capacidade de enfrentar a onda midiática e ganhar a eleição.
A candidata do PT mostrou força, incendiou a sua turma e injetou ânimo para a reta final dessa duríssima campanha.
Para azar de Aécio, o desastrado Pastor Malafaia (apoiador do tucano) fazia graça no twitter no fim da noite: “Já esta saindo uma ordem de prisão a caminho da Band contra Aécio por espancamento a mulher” (numa referência a suposta superioridade do tucano no debate).
Malafaia não deveria falar de corda em casa de enforcado. Aécio agradece se esse tema “violencia contra a mulher” for rapidamente esquecido.
Não será, ao que parece…
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