Reproduzo abaixo um trecho de post publicado hoje no blog do Nassif, de Motta Araujo. Volto em seguida.
“O clima nas empreiteiras é PAVOROSO, dois terços das mesas vazias, não estão pagando seus fornecedores grandes, médios e pequenos, estão demitindo em massa, os executivos presos, segundo me disse um colega de um deles hoje, estão destruídos, não servem para mais nada.
A Petrobras, segundo esse mercado, CONGELOU todos seus programas de investimentos, equipamentos quase prontos não devem ser entregues, esqueletos de plataformas, máquinas, navios ficam como estão, a Petrobras não compra, não paga e não recebe as encomendas, segundo a avaliação desse empresário, essa paralisia vai durar dois anos.
A Lava Jato continua e não tem tempo para acabar. Pode destroçar o País, mas parece mais importante a gloria da Justiça do que a dura realidade de uma nação rumando para o abismo.”
*
Eu de volta.
Me digam qual o sentido de uma iniciativa do Estado (no caso, o Judiciário e o Ministério Público) onde a questão social e econômica é simplesmente ignorada?
Não é uma questão menor.
A Operação Lava Jato, tocada com uma incrível irresponsabilidade, está paralisando as duas atividades econômicas mais importantes do país: a construção civil e a indústria do petróleo.
Neste sentido é que devemos cobrar o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e a presidenta Dilma.
É preciso fazer uma chamada ao bom senso.
Ontem, eu critiquei duramente o ministro da Justiça por ter dado uma entrevista à TV Veja.
O jornalista Paulo Nogueira, do Diario do Centro do Mundo, discordou. Achou que o ministro agiu bem, na linha da batalha da comunicação pedida pela presidenta Dilma.
O argumento quase me tocou. Afinal, qual o problema em dar uma entrevista a um órgão de oposição?
Aprovo, sobretudo, o esforço de Nogueira de tentar trazer serenidade a um debate que se tornou dramático.
Pensei bastante sobre o assunto, e ainda acho que foi um erro, porque ajudou a legitimar uma revista que se tornou a ponta-de-lança de uma oposição disposta a tudo.
Seria como o ministro da Justiça francês dar entrevista ao mais radical jornalzinho nazista, dias antes da tomada de Paris, tentando convencer a opinião pública alemã a não invadir a França.
Não funciona. Simplesmente não funciona.
Além disso, TV Veja?
Se o ministro quer fazer a batalha de comunicação em vídeo, teria que, no mínimo, organizar entrevistas para as tvs abertas.
O ministro da Justiça alguma vez abordou o problema da comunicação social do Brasil?
Não, mas deveria.
Outro problema, ainda mais grave, refere-se ao conteúdo da entrevista do ministro. Parece ter sido feita apenas com o intuito de defender a não responsabilidade de Dilma nos esquemas da Lava Jato. O que é importante, mas também não dá resultado e soa egoísta.
Cardozo deveria, urgentemente, iniciar ações políticas para evitar que a Lava Jato se torne, como rapidamente está acontecendo, um buraco negro a sorver e destruir o núcleo de excelência da atividade econômica brasileira: as obras de infra-estrutura, a indústria naval, a construção de plataformas e refinarias. E isso justamente num momento em que a economia brasileira, como um todo, encontra-se sob estresse, tentando se adaptar a um ambiente internacional negativo.
O interesse nacional tem de falar mais alto.
Agora não importa mais sequer defender o PT, ou o governo, ou Dilma.
A Lava Jato, feita sem responsabilidade, tornou-se um ataque ao desenvolvimento.
Que país é esse que, em nome de lutar contra a corrupção, interrompe todas as suas obras de infra-estrutura?
O Brasil não pode parar, porque isso implicará em perda de emprego, sofrimento e miséria social.
A cúpula do Estado, aí incluindo o Conselho Nacional de Justiça, o Conselho Nacional do Ministério Público, a PGR, o STF, a Presidência da República, o Ministério da Justiça, deveriam ser reunir para evitar o colapso da indústria de construção civil e da indústria do petróleo.
Esta última já está sofrendo com as bolsas. Ela não suportará um ataque interno somado aos ataques especulativos que já sofre lá fora, por conta da queda do preço do petróleo.
Para cúmulo, lemos que a Procuradoria Geral da União (PGR) viajou aos EUA para pedir a colaboração de FBI e governo americano contra a Petrobrás.
É uma insanidade.
Os setores que cuidam do petróleo nos EUA são os mais corruptos e violentos do mundo. Mataram mais de 1 milhão de pessoas no Iraque, derrubaram Kadafi, na Líbia, sempre com base em mentiras. O Iraque se tornou o centro de um gigantesco e corrupto esquema de empresas americanas que fornecem produtos e serviços à indústria de petróleo. O FBI e o Estado Americano não fazem nada contra isso.
Pior, o governo americano, através da NSA, espionou a Petrobrás.
Que segredos não foram roubados? Que tramoias não foram articuladas em cima desses segredos?
Espionou a Petrobrás e grampeou o celular da presidente da República!
E agora o PGR pede ajuda dessas entidades para detonar a Petrobrás, a nossa empresa de petróleo, e as nossas principais fornecedoras?
O entreguismo de nossas elites e da nossa mídia atingiu o paroxismo.
É contra isso que o ministro da Justiça deveria se insurgir, urgentemente, ao invés de dar uma entrevista meia boca à TV Veja e ao Jornal Globo.
Dilma, pela primeira vez em sua vida, deveria não adotar a sua costumeira estratégia de deixar a corda esticar até o limite, e reagir antes.
O governo anuncia que ela fará um pronunciamento após o Carnaval.
Por que não faz agora? Hoje?
Por que não faz toda semana?
Se tem medo de fazer isso porque a Globo diz que não pode, então vá a TV, e diga: entrem no meu blog para saber mais.
Pronto, aí lance um blog novo, mais bonito, onde fale todo o dia à nação, agindo politicamente para reverter o quadro de golpismo que cresce diariamente.
Se for bem feito, e corajoso, terá milhões e milhões de reproduções nas redes sociais.
O governo já ouviu falar de uma coisa chamada internet?
Ainda sobre a Lava Jato, alguém também precisa tomar uma atitude contra o modus operandi do Judiciário para obter delação premiada dos empreiteiros.
Do jeito que os estão torturando, mantendo-os presos por tempo indeterminado, sem que haja nenhuma condenação pesando sobre nenhum deles, o que vai acontecer?
O que estão querendo? Que façam todos como Pedro Barusco, doente terminal, que, desesperado, querendo viver os últimos dias de sua vida em liberdade, querendo ao menos se tratar num hospital decente, acusou o PT?
Para completar o quadro dantesco, ficamos sabendo que a Advocacia Geral da União (AGU), no afã de trazer Henrique Pizzolato de volta ao Brasil, declarou à Justiça italiana que manterá o preso brasileiro em “condições especiais”, superiores à média do brasileiro comum.
É a insanidade total. Vale tudo para prender petista. Até oferecer uma violação à democracia.
*
Na contramão de quase todo mundo, eu não comemorei a nomeação do novo presidente da Petrobrás, Aldemir Bendini. Mantive-me cético, porque, se Bendini não iniciar um contra-ataque político, se optar pelo modus operandi petista de ceder, ceder, ceder, então não vai adiantar nada. A Petrobrás vai continuar ruindo, o Executivo vai continuar perdendo o controle político sobre o Estado, e a Dilma corre o sério risco de sofrer um impeachment, ou se tornar uma “lame duck”, uma pata manca.
Quer dizer, duvido que a oposição aceita um “lame duck” no Brasil. Se a presidenta perder poder e prestígio, eles vão para cima até a sua derrubada.
Enquanto isso, não se viu o governo assumir sequer iniciativas políticas com vistas a convencer movimentos sociais, sindicatos e seu eleitorado de maneira geral de que está efetivamente a seu lado.
Ao contrário, medidas de “ajuste” foram divulgadas sem que a presidenta sequer fosse à TV dizer ao povo, como Lenin: “um passo atrás, para dois passos à frente”.
Não houve nenhuma estratégia para capitalizar a vitória eleitoral, transformando-a em energia política e mobilização social.
É uma estupidez porque, sem comunicação, não há política. Sem política, não há estabilidade. Sem estabilidade, a economia sofre e o governo perde receita. E aí o que o governo faz?
Vem à público anunciar que está promovendo cortes no seguro do pescador artesanal!
Sem comunicação, inventam-se nomes grotescos como “Pátria Educadora”, um nome cheio de ressonâncias conservadoras e militares, completamente hostil à estética jovem.
Enfim, bem que eu gostaria de transmitir serenidade aos leitores. Quem acompanha o blog há tempos conhece o meu amor pelas virtudes da prudência, serenidade e otimismo.
Não é o caso agora.
É preciso tensão máxima e sentido de urgência.
Na campanha eleitoral, as deficiências de Dilma e do governo eram supridas pela militância.
Agora, não há mais eleição. O jogo se dá quase que exclusivamente nas altas esferas institucionais.
Dilma repetiu, apesar de nossas aflitas advertências para não fazê-lo, o erro cometido no início da primeira gestão, quando desmantelou toda a estrutura de comunicação montada na campanha de 2010.
O novo governo foi formado num deserto de comunicação, o que se reflete imediatamente na política. Sem comunicação, o governo não ouve. Sem ouvir, comete erros.
Como já disse, o blog do Planalto se tornou um instrumento de comunicação protocolar. Intragável. Os posts tem dois ou três curtidas, e já acho muito.
A fanpage da presidenta, mostra-a rindo, numa foto pouco preocupada com a estética ou com a gravidade do momento político. Os posts são propagandas vulgares de campanha, falando em queda no desemprego, etc. Não há elaboração intelectual. Não há preocupação em produzir conhecimento e cultura política. A comunicação política não deve ser apenas para dizer coisas boas, mas para conversar sobre os problemas.
Os blogs, por sua vez, permanecem mais isolados do que nunca. O ministro Miguel Rosseto convidou alguns blogs para um café da manhã. E daí? Rosseto não tinha novidade a dizer, e o seu cargo parece simplesmente decorativo. Não tem poder nenhum.
Dilma não distribui poder a seus ministros. Segura o poder para si, e ao mesmo tempo se mantém incomunicável.
Todas as instituições do Estado estão crescendo no vácuo de poder do Executivo. Ontem a Câmara aprovou o orçamento impositivo, o que implicará em perda de poder real do Executivo, na medida em que os deputados não precisarão mais depender do humor de ministros, nem de acordos políticos com o Executivo, para receber a verba das emendas.
Eu até concordo com isso. Acho que, no médio e longo prazo, isso terá um efeito bom no sentido de pôr fim às negociatas entre ministérios e deputados. Mas, concretamente, no curto prazo, dificulta a governabilidade e, portanto, pode ser creditado como uma derrota do Executivo.
Os deputados se sentem agora livres para votarem o que quiser. Se o governo não tem instrumentos de poder para convencê-los, e não faz política, não tem comunicação, então estamos diante de uma possível crise de governabilidade.
Um cientista político me perguntou ontem: Dilma já se reuniu com as lideranças de todos os partidos?
*
Bem, há solução?
Claro que há.
Um impeachment é uma saída perigosa para o país, e tremendamente arriscada para a oposição e para a mídia.
A mídia, principal partido de oposição, ficará marcada, pela segunda vez na história, com a mancha golpista.
A solução é uma só: “coração valente”.
Montar um conselho de política e comunicação de alto nível. Com Franklin Martins, Lula, João Santana à frente. E empoderar essa equipe. Empoderar de verdade.
Se não fizer algo parecido, adeus.
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