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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Da arte de contar mentiras dizendo apenas a verdade, por Sérgio Saraiva

Nas manchetes abaixo temos notícias boas e ruins. Mas, diferente do que está escrito, “o mal é bom e o bem cruel”.

A primeira página da Folha de São Paulo de sábado, 24/01/2015, destaca duas manchetes.
Com destaque maior, a má notícia:
”Geração de empregos em 2014 foi a pior dos anos PT - com demissões da indústria e na construção, mercado de trabalho tem pior ano de geração de emprego desde 2002”.
Com um destaque menor a manchete que traz, pelo menos, uma boa notícia:
”SP tem recorde de roubos e a menor taxa de homicídios – roubos no Estado de SP subiram 21% em relação a 2013, no maior aumento anual já registrado, taxa de assassinatos por 100 mil habitantes cai para 10,06, no melhor resultado desde 2001, quando era 33,3”.
A manipulação da informação não está apenas em que a má notícia sobre a geração de empregos é atribuída ao PT enquanto a má notícia do aumento de roubos é atribuída a “SP” sem citar que é o PSDB que cuida da segurança pública do Estado de São Paulo há 20 anos. Isso é apenas mais um caso de “seletividade” da nossa grande imprensa.  
Ocorre que a "má notícia" é na verdade uma boa notícia. Mas a boa notícia está embalada em uma redação ambígua:
“Refletindo a desaceleração da economia, as contratações de trabalhadores com carteira assinada superaram as demissões em 396,9 mil vagas, um terço do dado de 2013 e o pior resultado desde 2002, o início da atual série histórica”.
Ou seja, ao final do ano, o país possuía cerca de 400 mil pessoas empregadas a mais. Isso em um ano de muitos problemas na gestão das contas públicas. Na verdade, até que o 2º mandato Dilma desse a sua guinada neoliberal, o ano de 2014 havia sido muito bom para os trabalhadores, com uma taxa de desemprego girando em torno de 5%.
Já a "boa notícia" esconde um dado preocupante, a deterioração da segurança pública e o aumento da violência em São Paulo. Mas para percebê-los é necessária uma informação que o jornal não nos dá.
Na parte boa, ficamos sabendo que
“os dados divulgados pelo governo também mostram que em 2014 os homicídios dolosos, praticados com intenção de matar, caíram 3,4% na comparação com 2013. Na capital, os índices foram ainda melhores: 9,83 casos por 100 mil -no total, foram 1.132”.
Boa notícia sem dúvida, ainda que empanada pelo fato número dos roubos ter subido.
“O Estado de São Paulo registrou em 2014 a maior quantidade de roubos dos últimos 14 anos - desde que a série histórica do governo paulista adota os mesmos critérios.Os assaltos, segundo dados divulgados nesta sexta (23), cresceram 20,6% em relação a 2013 -maior aumento anual já registrado. O percentual de crescimento na capital foi ainda maior: 26,5%”.
Esses dados podem ser relativizados, no entanto:
“Alexandre de Moraes [Secretário da Segurança Pública], disse que os resultados podem ser explicados em parte pela explosão de celulares (150%) e de documentos (186%) roubados.
"O que mostra que isso é que puxou esse índice para cima", disse. Ainda de acordo com Moraes, 70% dos roubos envolveram celulares e/ou documentos, dos quais 53% das vítimas eram pedestres.
 Outro fator que explica parte desse crescimento foi a possibilidade de registrar roubos pela internet”. 
Podemos ficar tranquilos? Os roubos são de pouca monta (celulares e documentos) e o aumento é, em alguma parte, relativo, pois se dá também devido a melhoria da comunicação dos casos para a polícia. Além do que, como vimos, os crimes mais violentos, os homicídios, estão em queda. Certo?
Errado.
Casos de pessoas assassinadas em assaltos não contam nos índices de homicídios.
Homicídio, por incrível que pareça, não inclui casos de latrocínio. Homicídios são assassinatos, crimes de ódio, por vingança ou passionais. Ainda que a polícia nada tivesse feito para reduzi-los, o simples envelhecimento da população já seria uma boa explicação para sua queda.
O latrocínio, roubo seguido de morte, é considerado crime contra o patrimônio. E, portanto, computado não diferentemente da subtração “cometida com violência ou grave ameaça”de um celular ou de uma carteira de documentos. Interessante essa fixação dos assaltantes paulistas por documentos e não pelo dinheiro contido nas carteiras roubadas.
Quantas pessoas foram assassinadas por assaltantes no Estado de São Paulo? Esse número cresceu proporcionalmente ao número de roubos? Vivemos um momento de aumento da violência? 
Não saberemos disso lendo a Folha de São Paulo, ela  sequer trata do assunto latrocínio em sua reportagem.
Mas saberemos que, em relação à crise hídrica, o governo federal, ou seja o PT, aponta para o colapso das represas, que “Dilma” , do PT, se cala sobre o assunto, mas que o “governador Geraldo Alckmin (PSDB)” tem a solução.

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