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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Como os blogs progressistas trabalham para a velha mídia, por Edson Furlan

Os blogs em geral, e os de notícias particularmente, são os novos e mais ameaçadores concorrentes dos tradicionais veículos comunicação.
Embora isso seja claramente percebido pela grande mídia e fique nítido na forma como agem em relação aos blogs, estes últimos, pelo contrário, parecem não ter percebido o papel que hoje desempenham. Inadvertidamente publicam conteúdos ora promovendo a grande mídia, ora prestigiando seus operadores.
Num período em que mais e mais brasileiros passam a ter acesso à internet e a se aventurar em mares por eles nunca dantes navegados, os blogs – em especial os progressistas – antes de apontar novas rotas para esses navegantes, terminam por direcioná-los para retrógrados destinos, levando-os a ter por referência e admiração totens há muito desacreditados.
Antigos e novos concorrentes
É pouco provável que ao ligar o televisor você encontre uma emissora transmitindo reportagens produzidas pela concorrente local. Improvável também que encontre em um jornal matérias provenientes de seu principal adversário comercial. Da mesma forma, dificilmente encontrará nesses veículos conteúdos produzidos por blogs da internet.
A razão disso é simples, reproduzir aquilo oriundo do concorrente é fazer gol contra: num só lance reconhece-se publicamente o valor do concorrente, sua competência, qualidade e ainda direciona para ele a audiência.
Com os blogs a situação se agrava. Por estarem no formato de páginas de internet podem ser acessados por todos os sistemas operacionais e pelos mais variados aparelhos conectados à internet (computadores, netbooksnotebookstablets, celulares, TVs etc.).
Seu formato multimídia (com textos, tabelas, imagens, áudios, animações, vídeos) enriquece e torna mais dinâmica e agradável a experiencia do usuário. A conectividade dos blogs com as redes sociais e a integração entre aplicativos presentes em tablets e celulares permitem que nesses dispositivos os conteúdos dos blogs sejam rápido e facilmente compartilhados com outros usuários. Que sejam copiados para arquivos ou aplicativos; armazenados no aparelho ou em memórias externas (reais – pendrives, ou virtuais – nas nuvens); ou transferidos de um aparelho para outro via bluetoothwi-fiNFC e assemelhados.
Levando em conta apenas esse conjunto de vantagens os antigos veículos de comunicação já teriam muito que se preocupar com a simples existência dos blogs. Acontece que em acréscimo a isso há o fatal golpe lançado na espinha dorsal desses e de outros veículos: a quebra dos monopólios de publicação e divulgação de conteúdos.
Se antigamente era preciso ter competência, contatos e/ou recursos para ter algo publicado – seja em jornais, revistas, livros ou outros instrumentos de divulgação -, hoje basta criar umblog e lá publicar o que se tem dizer. Não é preciso muitos recursos (dá até mesmo pra fazer tudo sem gastar um real), não requer q.i. (quem indica) e nem mesmo excelência naquilo a que se propõe publicar.
Um escritor, um pesquisador, um fotógrafo, um jornalista, um cozinheiro, um determinado profissional ou um indeterminado amador não precisam mais recorrer à editoras, instituições, entidades ou empresas para tornarem público o conteúdo produzido.
Os blogs de notícias geram uma preocupação adicional para os antigos veículos de comunicação: muitos deles são capitaneados por profissionais com longa experiência, cujas carreiras e formação se deram justamente nesses antigos veículos.

Novos e velhos símbolos

O temor que pequenos Davis derrubem gigantes Golias ocasiona um comportamento padrão da grande mídia em relação aos blogs:
1. Um mundo inexistente. Pretender dar a entender que os autores de blogs não produzem conhecimento ou conteúdos relevantes. A princípio blog serve apenas para entretenimento.
2. Crítica indireta. Quando pretendem refutar alguma publicação de blog, não citam a página que pretendem negar. Indeterminam o criticado, como se tratasse de algo difuso, de uma minoria, não tendo alguém que pudesse ser ouvido e não dando margem a pedido de direito de resposta.
3. Aqueles que não devem ser mencionados. Quando falam de pessoa certa se referem a ela de modo incerto.  Não dizem quem é, não mencionam seu nome, não dão crédito quando este é devido.
4. Desqualificação profissional. Quando não há como deixar de citar nominalmente a pessoa, procuram desqualificá-la. Omitem qualificações relevantes, seja sua formação, sua experiência profissional, atividade desempenhada ou biografia, chamando-a de blogueiro financiado pelo governo.
5. Desqualificação civil e profissional. O “blogueiro” deixa de ser blogueiro e passa a ser identificado como profissional determinado quando publicam penalidade sofrida ou adversidade vivida. Objetivo: causar dano à imagem do indivíduo.
Em vista disso, como agem os blogs diante desses e do comportamento desses concorrentes?
1. Reproduzem dia sim, outro também, textos provenientes desses veículos de comunicação.
2. Citam dia sim, noite também, a opiniões e comentários dos profissionais que trabalham nessas empresas, por mais irrelevantes que sejam as coisas que eles digam ou superficiais, parciais e sistematicamente incorretas e desmentidas pela realidade dos fatos as análises que realizam.
3. Promovem, indiretamente, esses veículos.
É bom lembrar que à medida que o país se desenvolve e as regiões se desenvolvem a grande velha mídia – hoje proveniente de São Paulo e do Rio de Janeiro - a cada dia perde influência para as produções regionais.
Na verdade, fora do sudeste a maioria dos brasileiros nem sabe da existência dos grandes jornais do Rio e de São Paulo.

Novos navegantes

Um contingente enorme de brasileiros que não lê jornais e revistas está adentrando na internet e passa agora a ter a oferta de um mundo de notícias.
Ao invés de os blogs possibilitarem novas referências a esses internautas acabam, por descuido, é direcionando os incautos para as velhas oligarquias midiáticas. Eles precisam direcionar seus leitores para outros blogs e sítios que estejam desvinculados da velha mídia oligárquica, precisam propiciar o ambiente no qual os navegantes possam tomar para si novos referenciais para a obtenção de informação e conhecimento.
Os blogs devem promover os verdadeiros pensadores, os reais e relevantes formadores de opinião que transbordam na rede. Se tantas pessoas meritórias já falecidas ou das quais somos contemporâneos pensaram ou hoje debatem construtivamente sobre nossa história, nossa realidade e sobre os caminhos do mundo, por que então reproduzir inadvertidamente aqueles operam em sentido contrário?
Com os blogs podemos fazer mais pelas futuras gerações, podemos dar-lhes novos referencias.
Para isso os blogs precisam estar cientes que são os novos veículos de comunicação, se estabelecerem como novos referenciais de informação e conteúdo, se reconhecerem como concorrentes diretos e caminho alternativo à grande mídia.
E tratar o concorrente como um concorrente.

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