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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Marta descobre que basta falar mal do PT para ganhar espaço na midia

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/marta-descobriu-que-para-virar-diva-da-midia-basta-bater-no-pt/

Da arte de contar mentiras dizendo apenas a verdade, por Sérgio Saraiva

Nas manchetes abaixo temos notícias boas e ruins. Mas, diferente do que está escrito, “o mal é bom e o bem cruel”.

A primeira página da Folha de São Paulo de sábado, 24/01/2015, destaca duas manchetes.
Com destaque maior, a má notícia:
”Geração de empregos em 2014 foi a pior dos anos PT - com demissões da indústria e na construção, mercado de trabalho tem pior ano de geração de emprego desde 2002”.
Com um destaque menor a manchete que traz, pelo menos, uma boa notícia:
”SP tem recorde de roubos e a menor taxa de homicídios – roubos no Estado de SP subiram 21% em relação a 2013, no maior aumento anual já registrado, taxa de assassinatos por 100 mil habitantes cai para 10,06, no melhor resultado desde 2001, quando era 33,3”.
A manipulação da informação não está apenas em que a má notícia sobre a geração de empregos é atribuída ao PT enquanto a má notícia do aumento de roubos é atribuída a “SP” sem citar que é o PSDB que cuida da segurança pública do Estado de São Paulo há 20 anos. Isso é apenas mais um caso de “seletividade” da nossa grande imprensa.  
Ocorre que a "má notícia" é na verdade uma boa notícia. Mas a boa notícia está embalada em uma redação ambígua:
“Refletindo a desaceleração da economia, as contratações de trabalhadores com carteira assinada superaram as demissões em 396,9 mil vagas, um terço do dado de 2013 e o pior resultado desde 2002, o início da atual série histórica”.
Ou seja, ao final do ano, o país possuía cerca de 400 mil pessoas empregadas a mais. Isso em um ano de muitos problemas na gestão das contas públicas. Na verdade, até que o 2º mandato Dilma desse a sua guinada neoliberal, o ano de 2014 havia sido muito bom para os trabalhadores, com uma taxa de desemprego girando em torno de 5%.
Já a "boa notícia" esconde um dado preocupante, a deterioração da segurança pública e o aumento da violência em São Paulo. Mas para percebê-los é necessária uma informação que o jornal não nos dá.
Na parte boa, ficamos sabendo que

Sobre a crise das caixas de comentários dos portais de internet

http://www.jornalggn.com.br/blog/augusto-diniz/secao-de-comentarios-de-portais-tornou-se-inocua-por-augusto-diniz

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Quanto valem as crianças? Por Lais Fontenelle

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Por que certos interesses reagem, com fúria mercantilizante, à lei que defende infância contra violência simbólica da publicidade.
Por Lais Fontenelle
As crianças estão sendo precificadas por um mercado que quer lucrar com sua vulnerabilidade. Em reação à resolução do Conanda (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente), que condena a publicidade infantil, a Mauricio de Souza Produções encomendou pesquisa sobre os impactos, pretensamente catastróficos, dessa proibição na economia do país.
Segundo ela, o fim da publicidade dirigida à criança custaria ao mercado R$ 33,3 bilhões, 728 mil empregos e R$ 6,4 bilhões em salários, além de uma queda de R$ 2,2 bilhões na arrecadação de impostos. Uma conta rápida revela que, considerando-se o universo de 40 milhões de crianças com até 12 anos, cada uma delas custaria cerca de R$ 825 – e que é de fato lucrativo explorar a vulnerabilidade infantil.
O que a pesquisa não leva em consideração é que a saúde física e emocional das crianças não pode ser precificada. Os custos de qualquer tipo de exploração da infância são sempre muito mais altos para a sociedade do que qualquer conta. A infância é o prefácio de um mundo mais “lucrativo” em termos sociais, ambientais e também econômicos – e se realmente acreditarmos nisso, devemos protegê-las com absoluta prioridade.

O discurso maniqueísta, por Luciano Martins Costa

do Observatório da Imprensa
IMPRENSA & JORNALISMO
Se houvesse uma palavra para descrever sucintamente a linguagem da imprensa do Brasil neste início de século, ela seria: “maniqueísmo”. Esse é o principal sintoma da crise de inteligência que afeta a mídia tradicional em quase duas décadas, período em que, contraditoriamente, se esperava um alargamento da reflexão no ambiente midiático, como um dos resultados previsíveis da evolução tecnológica na base de captação e publicação de notícias.
Da primeira à última página de jornais e revistas, do primeiro ao último minuto que o telespectador, ouvinte ou usuário dedica à televisão, ao rádio e à internet, praticamente todo tempo e todo espaço ocupado pelo sistema de informações é recortado por narrativas simplistas nas quais se pode identificar facilmente a presença dessa visão primária da realidade. O viés que domina o noticiário predominante na mídia tradicional, muito mais claro nos assuntos de política e economia, é a manifestação mais escancarada dessa deficiência.
Pode-se argumentar que o contexto produtor de informações – a frágil democracia brasileira, ainda contaminada por sequelas do autoritarismo – condiciona, na origem, o processo comunicacional. De fato, há uma relação inevitável entre a imprensa e o ambiente em que ela se desenvolve, mas o que se espera do jornalismo é justamente que seja capaz de expor a complexidade de seu tempo com uma visão de futuro, e não que tente determinar o futuro com base num olhar passadista.
Alguns analistas têm eventualmente abordado essa relação, mas o viés dominante na mídia dá mais visibilidade à opinião conservadora, quando não abertamente reacionária, o que impõe ao ambiente midiático essa tonalidade monocromática. No entanto, mesmo uma opinião comprometida com o reducionismo maniqueísta pode contribuir para a compreensão dessa deficiência básica da imprensa nacional, como se pode observar, por exemplo, em artigo publicado sexta-feira (23/1) pelo jornalista Fernão Lara Mesquita noEstado de S. Paulo e no seu blog Vespeiro.com (ver aqui).
Reflexões como essa são raras nos jornais brasileiros, porque a imprensa não se pensa. Eventualmente, porém, essas manifestações são mais esclarecedoras pelo que não dizem do que pelas afirmações que fazem.
Non duco, ducor
Essencialmente, Mesquita afirma que o regime em que vivemos não é uma democracia, e que a democracia leva a culpa de tudo de mal que acontece no Brasil. Na sua opinião, ao enfatizar os pecados dos políticos, a imprensa demoniza a política porque se restringe a uma crítica “moral” do sistema e se mostra incapaz de uma crítica “técnica e propositiva” das instituições.
A causa dessa deficiência, na sua opinião, é a “terceirização da orientação política” da cobertura do jornal para o segundo escalão, o que condena o órgão de imprensa a ser conduzido por suas fontes – “em vez de conduzir seus leitores”, diz o autor.
Deve-se dizer, do maniqueísmo, que, quanto mais elaborado for o discurso, mais evidente fica o propósito de reduzir as possibilidades de interpretação, pois a intenção não é ampliar a diversidade de ideias, mas conduzir todas para um mesmo funil. Aliás, a intenção maniqueísta do texto em questão é confessada no ato falho de Mesquita, ao considerar explicitamente que a função do jornal é “conduzir seus leitores”.
Mas façam os observadores suas próprias conjecturas ao ler o texto citado, que se usa aqui apenas como exemplo de como, mesmo quando se dispõe a refletir sobre seus fundamentos éticos, a imprensa encontra uma barreira que não consegue transpor. Ela pode ser definida pela pretensão confessada por Mesquita: a de que o jornalismo é o “condutor” da cidadania.
Esse é, exatamente, o ponto original do debate: ao considerar que sua missão é guiar a sociedade, os pensadores da imprensa confessam o caráter autoritário e manipulador de sua atividade.
O maniqueísmo é a manifestação mais honesta desse discurso camuflado, que mal dissimula seu grande temor: o problema, para os donos da mídia, não é haver terceirizado a orientação política de seus jornais, porque seus prepostos são geralmente mais realistas que o rei. O que os assombra é a mudança na função de mediar o contato dos indivíduos com a realidade, e a crescente percepção de que o mundo sempre vai precisar do jornalismo, mas não necessariamente daquilo que chamamos de imprensa.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Análise de mídia: Estadão brinca com números para rebaixar Dilma na educação

Jornal GGN - Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em seu último ano de governo, 2002, destinou 33,53 bilhões de reais (número corrigido pela inflação - IPCA 2013) para o caixa da educação. Executou 86,7% desse montante. Dilma Rousseff (PT), em 2014, destinou 101,04 bilhões de reais à educação. Executou 78,8%. Agora a pergunta que importa: quem desembolsou mais recursos com educação: Dilma ou FHC?
Para o Estadão, a pergunta que importa é: proporcionalmente ao orçamento (seja ele de 33 bilhões de reais ou quase três vezes superior a isso), quem teve a maior média relativa à execução dos recursos disponíveis para educação? A resposta é o carro-chefe do caderno Metrópole desta segunda-feira (26), por um simples motivo: Dilma não teve.
Na capa do periódico, a chamada: “Educação tem pior execução de orçamento”. A informação complementar diz que Dilma até ampliou o volume de recursos empregados na área, mas foi a presidente que teve a média mais baixa de execução desde 2001.
Na página A12, uma página par, sem nenhum anúncio, inteiramente reservada à reportagem que fica na superficialidade dos números, o Estadão manchetou: “Nos 4 anos de Dilma, MEC [Ministério da Educação] teve a pior execução de orçamento desde 2001”. “O problema é a gestão Dilma”, pensou o leitor. Vejamos.

Boneca negra é denominada Neguinha do Espanador em exposição de brinquedos

Jornal GGN - Em meio à uma exposição de bonecas no Shopping Market Place, a "Mail Art Cupcake Surpresa", uma parceria do Museu Brasileiro de Escultura e Brinquedos Estrela, uma realmente surpreende: a boneca negra denominada "Neguinha do Espanador". 
Neguinha do espanador
De VioMundo
Luana Tolentino: “Choque, repulsa, raiva, meu sangue ferveu. Foi o que eu senti quando vi a foto da boneca, com a participação do MuBe e da Estrela. “
Por Conceição Lemes
Muitos dos leitores assíduos do Viomundo  já conhecem um pouco Luana Tolentino, sua história, leram seus textos aqui.
Para quem está chegando aqui agora Luana teve uma infância e adolescência difíceis, como toda criança e adolescente pobre e negra. Foi faxineira, babá. Num desses empregos, a filha da patroa deu-lhe pão mofado para comer, enquanto a menininha mimada comia pão fresco e quentinho que Luana acabara de trazer da padaria..
Na raça, Luana deu a volta por cima. Hoje, aos 31 anos, é historiadora formada pela UN-BH e professora de História para o ensino fundamental numa escola pública de Belo Horizonte. É também ativista do movimento negro e de mulheres.

domingo, 25 de janeiro de 2015

A esquerda avança na Europa

http://tijolaco.com.br/blog/?p=24376

A Globo joga no ar o "volume morto" da sua imparcialidade

http://www.blogdacidadania.com.br/2015/01/william-bonner-promete-imparcialidade-logo-apos-mentir-para-proteger-psdb/

As 10 estratégias de manipulação midiática

http://jornalggn.com.br/noticia/as-10-estrategias-de-manipulacao-midiatica#at_pco=tcb-1.0&at_si=54c48c56459af7ed&at_ab=per-2&at_pos=0&at_tot=5

O maior inimigo do Brasil é a mídia brasileira

http://jornalggn.com.br/noticia/bandeira-de-mello-o-maior-inimigo-do-brasil-e-a-midia-brasileira

A mídia é hegemonizada pelo agronegócio

Por Felipe Bianchi, no site do Centro de Estudos Barão de Itararé:

Em atividade que marcou o lançamento da nova página do MST, João Pedro Stedile apontou a mídia brasileira como um dos agentes responsáveis por enterrar o projeto popular de reforma agrária no país. “A imprensa é hegemonizada pelo agronegócio”, afirmou o dirigente durante o bate papo com blogueiros e ativistas sociais, ocorrido nesta quarta-feira (21), na sede do Barão de Itararé, em São Paulo.

O evento contou com 70 participantes, além de 1200 espectadores que seguiram a transmissão online feita pela Pós-TV. Dentre os blogueiros e jornalistas convidados, marcaram presença Paulo Henrique Amorim (Conversa Afiada), Rodrigo Vianna (O Escrevinhador), Laura Capriglione (Ponte), Altamiro Borges (Barão de Itararé), Conceição Oliveira (Maria Fro), Nilton Viana (Brasil de Fato), Paulo Salvador (Rede Brasil Atual), José Reinaldo (Portal Vermelho), Antonio Martins (Outras Palavras), entre outros.

Confira, a seguir, os diversos tópicos abordados por Stedile ao longo da conversa.

Reforma agrária

O tema da reforma agrária mudou de sentido. No senso comum, quando falamos em reforma agrária, vem à cabeça um processo de repartir a terra - e é isso mesmo. O conceito surgiu baseado no paradigma de que, por ser um bem da natureza, a terra deve ser de quem nela trabalha, postulação feita na revolução mexicana, por Emiliano Zapata. Foi o marco que levou governos a pensarem programas de reforma agrária, que só se viabilizaram pois eram combinados com projetos de desenvolvimento nacional. A própria burguesia industrial nacionalista tinha interesse na reforma agrária, pois ao transformar camponeses sem terra em agricultores, produtores de bem, seriam também consumidores dos bens da industria. Havia um pacto entre camponeses e burguesia.

Todas as reformas agrárias feitas no sec XX levaram a um enorme processo de desenvolvimento econômico e industrial. No Brasil, porém, desde Celso Furtado em 1964, todos os intentos de reforma agrária foram derrotados. Com Lula, havia esperança, pois ele ia a nossas reuniões, pegava uma caneta velha e falava que quando fosse presidente, a primeira coisa que assinaria seria a reforma agrária. À época, dávamos risada. Quando ele ganhou a presidência, não saiu a reforma agrária, mas muito pelo fato de o cenário da reforma agrária ter mudado drasticamente. A agricultura do Brasil e do mundo está sendo dominada por forças mais poderosas que o latifúndio: empresas transnacionais que dominam o comércio e a produção agrícola internacional, em parceria com os bancos que as financiam. Esse modelo se chama agronegócio.

A reforma agrária não sair não é pura culpa do governo que não quer ou do MST, mas porque as forças que a impedem são muito mais poderosas. É uma mudança de paradigma: lutar por reforma agrária não é mais apenas um programa camponês. É lutar pelo que será feito no campo: produzir alimentos sadios e garantir a soberania alimentar do país, ou o matar a biodiversidade e envenenar os alimentos, que é o modelo do agronegócio. Um projeto popular de reforma agrária, hoje, beneficia a própria população urbana ao descentralizar a agro-indústria, gerar emprego e substituir o veneno pela agroecologia.

Papel da mídia

Nem o governo e nem a academia tem uma elaboração clara do tipo de reforma agrária que precisamos. Muitos enxergam apenas a ideia antiga – e a enterram, enterrando também as necessidades de mudança. A imprensa, hegemonizada pelos interesses do agronegócio, ajuda a enterrar o projeto de uma reforma agrária popular, defendida pelo MST.

A própria crise hídrica em São Paulo ilustra essa parceria. São Paulo sofre o efeito do monocultivo massivo de cana de açúcar no estado, que afetao equilíbrio climática. São temas ocultados pela mídia. Daí a importância de fazermos o contraponto na internet e nas ferramentas digitais.

A verdade é que houve uma despolitização na sociedade e o governo, que vivia de conciliação, ficou com medo de investir na disputa de ideias com as massas. O projeto da TV Brasil, de uma TV pública, deveria ser do tamanho da Rede Globo. Mas o governo teve medo de politizar as massas por meio da disputa de ideias e agora paga um preço caro.

Internet

Como fazer comunicação com as novas ferramentas ainda é um desafio, mas que se faz essencial na luta política. O segundo turno da eleição é prova: era uma disputa ideológica que só foi plasmada no segundo turno, através das redes sociais. Luta que se trava na internet ajuda a esclarecer e jogar luz sobre a luta de classes. É a tecnologia a serviço da classe trabalhadora.

Nossa ideia é ter uma página mais dinâmica, mais atual, para que as informações da luta de classes no campo chegue de uma forma até mais prazerosa para seu público. Sempre fomos bons de discurso, mas ruins de comunicação de massa. Ainda estamos, nós da esquerda, muito presos aos tempos idos de tribunos.

Katia Abreu e Patrus Ananias

Não devia nem perder tempo em falar de Katia Abreu [nomeada ministra da Agricultura], um dos erros que Dilma Rousseff cometeu. Ela [Katia Abreu] devia se envergonhar do fato de que, em Tocantins, seu estado, 623 mil famílias só comem por causa do Bolsa Família. Mas claro que ela não fala disso, pois para resolver o problema, só com reforma agrária, e aí talvez tivéssemos que iniciar pelas fazendas de sua família.

Já Patrus Ananias [nomeado ministro do Desenvolvimento Agrário] é meu amigo pessoal. Estamos em contato com ele. Ele sabe que defendemos o programa “Bolsa Árvore”, para reflorestar o país com o trabalho dos camponeses. Programa, inclusive, que acabaria com esse calor massacrante (risos)

Vitórias da agricultura familiar

Cinco anos atrás, fui em um assentamento no interior do Piauí e a merenda escolar do assentamento vinha de Bauru (SP). A merenda paulista era bolacha da Nestle. Uma das vitórias que tivemos foi o Programa Nacional de Alimentação Escolar: por lei, pelo menos 30% de toda a merenda escolar tem que vir da agricultura familiar.

Gilberto Kassab, quando prefeito, dizia que “em SP não havia agricultura” e seguiu comprando da Nestle ao invés de fomentar a agricultura familiar. Fernando Haddad, por sua vez, que foi um dos construtores do PNAE, aderiu e fez um acordo por arroz orgânico e suco de uva orgânico. Hoje, as crianças de São Paulo não comem mais arroz com veneno da Bayer, mas sim arroz orgânico da agricultura familiar.

Temos que ter claro que, depois que conquistamos a terra e temos o assentamento, a luta continua. A disputa contra o agronegócio segue dentro do assentamento. Mesmo o camponês conquistando terra às custas de uma árdua batalha, o agronegócio tenta cooptá-lo. Por isso nossa ênfase na agroecologia, na importância de alimentos sadios, sem agrotóxico.

A produção dos assentamentos é direcionada para o que chamamos de mercado institucional. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) garante que vai comprar. O camponês não é comerciante, é camponês. A Conab foi um programa conquistado junto ao governo federal que garante a compra de 297 tipos diferentes de alimentos produzidos em assentamentos. Nos grandes supermercados, são meia dúzia de alimentos empacotados pelas transnacionais. Nossa briga com a Dilma é para massificar essa ferramenta.

Papa Francisco

A eleição do novo papa é fruto de uma crise evidente na Igreja católica. Tivemos sorte de Bergoglio ser um personagem que viveu intensamente uma sociedade politizada como a Argentina. Dizem que, entre os amigos, ele mesmo se declara peronista. É um personagem que extrapola o meio eclesial e que tem uma ligação muito grande com os trabalhadores urbanos de Buenos Aires.

Por amigos comuns, se produziu, em Roma, no ano passado, uma reunião da qual saiu a ideia de construir um Encontro Mundial de Movimentos Populares. Independente de religião, credo, etnia, partido politico. A ideia era refletir sobre os problemas da humanidade. O encontro contou com 200 participantes, sendo 150 de movimentos populares e 50 escolhidas pelo Vaticano. Foram três dias de debate sobre os problemas da humanidade em pleno Vaticano, seguindo a metodologia do ver, julgar e agir. No primeiro dia, análise de conjuntura. No segundo dia, avaliação da conjuntura - e neste dia o Papa Francisco participou de toda a discussão. A bandeira de luta retirada do encontro foi que não deve haver, no mundo, nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra e nenhum trabalhador sem direitos.

Pela primeira vez, Evo Morales esteve presente no Vaticano. O presidente boliviano [nomeado autoridade máxima dos povos indígenas quechua e aymara] cumprimentou o papa, fez sua fala e foi convidado, em público, a jantar em companhia de Francisco. É, sem dúvidas, uma figura sui generis para o Vaticano. Imagine, um papa que se recusa a ter a mão beijada pelos fieis.

Conjuntura política

A conjuntura política do Brasil está cada vez mais complexa e anuncia necessidade de mudanças. Em rápidas pinceladas, compartilho a leitura do MST e dos movimentos sociais em gerais: Lula em oito anos e Dilma em mais dois deram certo com o programa neodesenvolvimentista, pois estava baseado em uma economia crescente, além da recuperação do papel do Estado e da indústria, que potencializou a economia e gerou a retomada do emprego e a redistribuição de renda. Por isso teve estabilidade eleitoral, inclusive.

Esse programa, no entanto, se esgotou. A economia depende do exterior e as forças do capital internacional agiram sobre a nossa economia. Os capitalistas daqui, ao invés de investirem na indústria, investiram no rentismo, deixando o governo sozinho nos investimentos produtivos. Esse é o complicado econômico.
Por outro lado, há um complicador: social: embora tenha aumentado o emprego e a renda familiar, na vida social e na perversidade do capitalismo, as cidades viraram um inferno. O transporte público é péssimo. A classe trabalhadora paga para trabalhar. É possível, sim, tarifa zero! É possível, sim, transporte público e gratuito para quem estuda e para quem trabalha.

Mais que isso, a democracia brasileira foi sequestrada. 10 empresas financiaram 70% dos parlamentares. De que adianta votar se quem elege é quem financia? Reforma política é urgente para restaurar a democracia - e estamos falando da democracia burguesa!

Em suma, o governo está em uma encruzilhada e precisa guinar à esquerda, mas até agora não deu sinais concretos de que o fará.

Mídia e política no Brasil de Lula

Do site Carta Maior:

No livro "De la expectativa a la confrontación" (Sans Soleil, 2015), o sociólogo Ariel Goldstein (Instituto de Estudos da América Latina e o Caribe, Universidade de Buenos Aires) estuda a relação entre a mídia e política no Brasil de Lula, com base no caso do jornal liberal-conservador "O Estado de S. Paulo". A realização de uma análise detalhada dos editoriais do jornal permite verificar as mutações em suas posições políticas durante três conjunturas deste governo: a reforma da previdência, o chamado “mensalão”, e as eleições presidenciais de 2006.

Como assinala o Professor Fernando Azevedo, no prólogo da obra, “a pergunta que inspira o ponto de partida e o tema central deste livro, desperta grande interesse na medida em que se sabe que a mídia brasileira, especialmente a denominada grande imprensa escrita (os jornais diários de circulação nacional e as revistas de informação semanais), possui uma convivência histórica de intima relação com as elites políticas e econômicas do país e os segmentos mais conservadores da sociedade.”

O estudo verifica as mudanças nas caracterizações que fez o jornal sobre o processo político global. O Estado de S. Paulo passará de caracterizar a liderança de Lula como “pragmática”, a começos do governo, para designá-lo como um “populismo chavista” com a emergência do escândalo do “mensalão”. O Partido dos Trabalhadores (PT) será caracterizado como “radical” no começo, e depois como “partido corrupto”, é também serão desqualificadas em forma invariável as relações políticas do governo brasileiro com o Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra (MST).

A política externa será criticada em forma moderada a começos do governo, para depois ser desqualificada como uma diplomacia “partidária” e “bolivariana”. A inicial legitimidade da austeridade fiscal na política econômica do governo levará posteriormente as críticas das “despesas de eleição” e do programa social Bolsa-família.

Estas variações nas posições políticas do jornal que referem ao primeiro governo de Lula, que vão mudar de forma evidente com o chamado escândalo do "mensalão" de 2005, produzindo o que chamamos como o passo da expectativa para o confronto, constituem o objeto que este estudo tem como objetivo atingir.

Steve Ellner, Professor da Universidade de Oriente, Venezuela, PhD em História da América Latina, disse sobre o livro: “Há uma necessidade urgente de chamar a atenção para as distorções, as verdades a metade e a prática que é chamada em inglês “cherry picking” (seleções de acordo com a conveniência) dos meios de comunicação de grandes corporações. Este texto mostra que as mesmas distorções sobre Chavez na Venezuela estão presentes na cobertura sobre o governo de Lula e o PT no Brasil. Isto é irônico porque a oposição na Venezuela e os meios de comunicação apontam para o Brasil como um exemplo de uma ‘esquerda boa’”.

Por sua parte, o dirigente do PT, Valter Pomar, disse: "Em novembro de 1971, Salvador Allende e Fidel Castro tiveram uma conversa em que criticaram o 'libertinagem da imprensa', ou seja, o reacionário papel exercido pelos meios de comunicação. Quarenta anos mais tarde, a América Latina e a situação mundial mudaram profundamente, mas a atuação dos oligopólios de mídia permanece semelhante, como é demonstrado pelo estudo de Ariel Goldstein, neste livro que todo mundo deveria ler."

Já o cientista político da Universidade de São Paulo (USP), Celso Roma, afirmou: “O texto está bem elaborado, formalmente impecável. O que nós sabemos é que o jornal manteve sua linha editorial. Mantendo coerência aos princípios editoriais, o jornal teve (e tem) de emitir opinião sobre novos eventos da política, economia e internacional. Em passagens do texto, se alega o que o jornal faz: hierarquiza os valores. O jornal pode fazê-lo porque tem e assume posição perante o público. O trabalho é ótimo.”

No contexto do debate existente sobre as complexas relações entre a mídia e os governos progressistas da América Latina, este trabalho constitui uma contribuição para a compreensão da forma na qual estas tensões foram desenvolvidas no Brasil de Lula, a partir do estudo de um grande jornal da imprensa brasileira.

O livro está disponível para download gratuito neste endereço.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Liberdade de expressão da mídia é seletiva e covarde, por Paulo Pimenta

Liberdade de expressão da mídia é seletiva e covarde
Paulo Pimenta
Toda a vez que o debate sobre os limites do humor emerge, a mídia – especialmente a brasileira - diz que é preciso "ir até o fim" para se garantir a liberdade de expressão.  "Não podemos recuar", afirmam uns. "Não vamos deixar nos intimidar", dizem outros.
Mas dentro desse "limites do humor" é comum vermos por parte da mídia uma naturalização da violência, da cultura do machismo, da homofobia, do preconceito às minorias e intolerância às diferenças. Será mesmo que essas "gracinhas" fazem parte de um script tão inofensivo assim? Sabemos que não. O humor "apenas" por ser humor não está desprovido de um caráter ideológico em seu conteúdo.
O deboche e menosprezo ao negro só foi coibido a partir da lei que criminalizou o racismo no país. O que hoje se repudia com veemência, as piadas contra negros, antes era aceito como algo natural, que "fazia parte".
Nesse mesmo contexto, está o PLC 122/2006 que criminaliza a homofobia. Enquanto o Congresso se omite, parte da mídia reforça em seus humorísticos uma cultura de que os gays são passíveis de serem ofendidos e humilhados, quando deveria promover uma cultura que negasse a discriminação e valorizasse o reconhecimento ao direito de sermos diferentes uns dos outros.
Daí, alguns questionamentos, qual o papel social da mídia com relação a esses temas? Não deve haver mesmo limites para o humor?
É claro perceber que os humorísticos da mídia brasileira, em grande parte, não buscam produzir uma consciência crítica da nossa população em relação às minorias. Pelo contrário, na medida em que eles reafirmam o preconceito, produzem um retrocesso no pensamento coletivo, contribuindo para um sistema de diferenciação, segregação e exclusão.
Mas, e quando a mídia passa a ser o alvo das críticas ou piadas, ela mantém o mesmo argumento de que o humor deve prevalecer a todo custo?  Claro que não.
Ela reage de forma autoritária quando é zombada ou satirizada em razão de seus erros e, especialmente, suas grandes fantasias jornalísticas. Rapidamente, ela age, seja dentro do seu próprio campo ou indo até ao Poder Judiciário, para impedir qualquer prejuízo a sua, já abalada, credibilidade.
A mídia é inteligente o suficiente para saber que a quebra do monopólio da informação e uma opinião naturalizada na sociedade de que ela combate a pluralidade de opiniões e engendra todos os esforços na direção de um pensamento único, atendendo a seus próprios interesses, ameaçaria também a hegemonia daqueles que a financiam.
Assim, a liberdade de expressão da mídia brasileira é seletiva e covarde. É uma concessão para poucos. A liberdade de expressão - não a que ela diz defender de maneira hipócrita, mas a que põe em prática - gira para impedir que haja qualquer retrocesso em um sistema arcaico de privilégios. Por isso, ela própria conhece, mais do que ninguém, os limites dessa liberdade de expressão, até onde pode ir e sobre o quê e quem falar.
A mídia brasileira sempre esteve preparada, aparelhada e unida para manter o status quo e abafar as vozes daqueles que discordam do projeto político e da agenda que ela própria tem para o Brasil. Entretanto, ao que parece, a mídia brasileira demonstra dificuldades para lidar com as críticas para além da sua seção de cartas do leitor, em que ela exerce o filtro, tampouco como protagonismo possível que as novas tecnologias têm permitido aos cidadãos e à sociedade civil de romper com lógica vertical da comunicação.
Um episódio que ocorreu em 2010 nos dá a clareza de quão longe a mídia brasileira está disposta a ir para calar os que fazem piadas com ela ou questionam sua hegemonia. Naquele ano, os irmãos Lino e Mário Bocchini criaram o blog Falha de S.Paulo, de análises e críticas satíricas a matérias e conteúdos veiculados no tradicional diário paulista.
Imediatamente, 17 dias depois, o jornal Folha de São Paulo obteve liminar e censurou o blog, que saiu do ar. Além disso, os autores estão sendo processados pela Folha de S. Paulo. 
Segundo os irmãos e jornalistas Bochini, o blog Falha de S.Paulo está há mais de 4 anos censurado por uma decisão judicial, movida justamente por um dos veículos que se diz defensor da liberdade de expressão e que, ao lado de mais meia dúzia, forma o oligopólio da comunicação no país.
Pois bem, estranho é o fato desse oligopólio, que se autoproclama "guardião" e "defensor intransigente" da liberdade de expressão, e está sempre tão disposto a levar os limites do humor "às últimas conseqüências", não enxergar o caso Folha versus Falha como censura, já que cada vez que um veículo jornalístico tem sua atuação limitada pela ação do Poder Judiciário fala-se em censura, e a grande mídia e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) bradam em favor da liberdade de expressão no país.
É curioso também observar que na época em que o caso Falha versus Folha ganhou repercussão, a MTV Brasil em um de seus programas utilizou logotipo idêntico ao usado pelo Falha que satirizava a Folha. Entretanto, nenhuma ação foi movida contra o Grupo Abril, antiga proprietária da MTV Brasil. "Lobo não como lobo", já diz um velho ditado popular.
Recentemente, o recurso dos criadores do blog Falha de S.Paulo chegou ao STJ. A pergunta é: Folha vai manter sua posição de censura contra os irmãos Bochini, admitindo, então, que há limites para o humor; ou vai rever sua posição, mesmo que judicialmente desfavorável a si mesma? Talvez, para a Folha e para o oligopólio da mídia haja uma terceira via, algo como "não façam comigo o que faço com vocês". É possível.
Está claro que a Folha de S.Paulo mira muito além dos irmãos Bochini. Insatisfeitos com a crescente audiência de blogs noticiosos na internet - que impõem uma nova agenda à Secom da Presidência da República com relação a "tal" mídia técnica - e decadentes em sua credibilidade e alcance, Folha é a porta-voz da hora do oligopólio da comunicação brasileira que busca intimidar e enfraquecer a blogosfera, jornalistas independentes, tuiteiros que ousam interpretar nas entrelinhas da imprensa e alertar, com posições críticas e contrárias, a insistente tentativa de imposição de uma agenda neoliberal que a mídia tem para o Brasil e a manutenção de um sistema de privilégios.
O recado está dado: "o monopólio da informação e da livre manifestação do pensamento é nosso, e qualquer tipo de crítica será censurado. E se possível, ainda queremos, buscar uma indenização daqueles que insistirem em nos desafiar".
O jogo é o mesmo, mas as regras são diferentes. Nos editoriais impressos e eletrônicos continuaremos a assistir ao mise-en-scene da defesa intransigente da liberdade de expressão, mesmo que por trás das câmeras a pluralidade de ideias, que hoje transita, especialmente, pela blogosfera, continue a ser combatida.


Paulo Pimenta é jornalista formado pela UFSM e deputado federal pelo PT do Rio Grande do Sul.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A mídia brasileira não defende liberdade de expressão, por Miguel do Rosário

Sugerido por Webster Franklin
Por Miguel do Rosário
ScreenHunter_5470 Jan. 18 09.21
É preciso enterrar esta mentira.
A mídia brasileira não defende a liberdade de expressão.
Nem absoluta, nem parcial, nem nenhum tipo de liberdade de expressão.
A única liberdade que a mídia conhece é aquela que lhe interessa comercialmente.
A mídia brasileira não deu quase nada sobre a sonegação da Rede Globo.
Houve um sinistro pacto de silêncio em torno do assunto, apesar de envolver 1 bilhão de reais, roubo de processo e lavagem de dinheiro em diversas off shore no exterior.
A mídia brasileira apoiou o golpe, sustentou a ditadura e se enriqueceu à margem de um regime totalitário que censurava, matava e prendia quem tinha coragem de se expressar livremente.
Além disso, a liberdade de expressão não existe num regime de monopólio.
O sistema de comunicação brasileiro não é democrático e, portanto, não é livre.
E se não é livre, não existe liberdade de expressão.
O poder de poucas famílias sobre tvs, rádios e jornais, não encontra paralelo no mundo democrático.
O arcabouço legal, após o fim da lei de imprensa, também não colabora para a liberdade de expressão.
Ricos e poderosos podem processar judicialmente qualquer um que lhes incomode. Como não há lei, depende-se da opinião de juízes, que infelizmente ainda formam, no Brasil, um estamento patrimonialista a serviço da classe dominante
É o caso, por exemplo, de Ali Kamel, que processa vários blogueiros, por conta de ninharias. Ninguém lhe chamou de ladrão. Ninguém ofendeu sua família. Ninguém o desrespeitou como pessoa.
Houve apenas humor, chiste e, no meu caso, uma crítica política ao chefe do jornalismo do maior monopólio da América Latina.
Não existe liberdade de expressão nem na própria mídia.
Se alguém elogiar um político do qual a mídia não gosta, é demitido.
Se alguém fizer uma charge crítica ao político que a mídia gosta, é demitido.
O jornalismo brasileiro encontra-se cada vez mais oprimido por um patronato sectário.
Não há liberdade nenhuma!
Enquanto todas as profissões liberais se expandem no Brasil (médicos, advogados, arquitetos, etc), o jornalismo declina.
Os salários são cada vez menores, há cada vez menos empregos. Os jornalistas se sentem cada vez mais oprimidos nas redações.
Não podem pensar, não podem falar, não podem desenhar, não podem sequer desabafar nas redes sociais.
Quer dizer, podem desabafar sim, desde que o desabafo seja agradável aos patrões!
Podem falar o que quiser, desde que toquem conforme a música dos barões da mídia!
E agora a mídia brasileira, uma mídia monopolista, conservadora, golpista, astutamente, toma para si a bandeira de Charlie, um jornalzinho nascido na luta contra os monopólios, contra os conservadores, e que sempre defendeu, de verdade, a democracia.
No enterro de Charb, seus amigos cantaram a Internacional, a famosa canção revolucionária, com os punhos erguidos, e Jean-Luc Melechon, uma das principais lideranças da esquerda francesa, fez o discurso principal.
Melechon foi o candidato a presidente da Frente de Esquerda, nas eleições de 2012. É um homem público extremamente sério e respeitado pela esquerda européia.
A esquerda francesa defende a Palestina, defende os imigrantes, defende todas as minorias, lança candidatos muçulmanos, contra uma direita cada vez mais racista, cada vez mais reacionária quando o tema é imigração.
A nossa mídia nunca fez um “Globo Repórter” em detalhes sobre o socialismo francês, que inclui um sistema tributário progressivo, leis sobre a herança e sobre as grandes fortunas, educação e saúde públicas para todos.
O socialismo francês hoje está em crise inclusive por seus excessos, e pelos vícios do próprio homem. Por exemplo, há 25 anos, o Estado francês, a partir de conselhos de psicanalistas, começou uma nova política em relação aos órfãos. Ao invés de orfanatos, as crianças eram alocadas em famílias que receberiam auxílio do Estado para criá-las. Resultado: uma quantidade crescente de famílias que rejeitavam os filhos quando este completavam 18 anos, e o Estado parava de pagar o auxílio.
Os terroristas do atentado são um exemplo. Eles foram criados por famílias que recebiam auxílio do Estado, e foram rejeitados em seguida, ingressando no mundo do crime e, depois, aderindo ao terrorismo.
A mídia brasileira é uma talentosa alquimista. Ela consegue inverter tudo. No primeiro dia da ditadura, os jornais diziam que a democracia tinha voltado.
Transformaram a democracia de Jango em ditadura, e a ditadura em democracia.
E agora transformam um jornalzinho comunista-libertário de Paris em ícone da sua visão distorcida, monopolista, hipócrita de liberdade de expressão!
Os chargistas do Globo apenas podem fazer charges que corroborem a linha reacionária do jornal.
Nenhum chargista do Globo tem ou terá liberdade de expressão para praticar uma arte livre e irreverente!
Sobretudo se a crítica deriva de uma ideologia socialista, anarquista ou libertária, como era a dos chargistas do Charlie.
Ao contrário, a mídia demite imediatamente qualquer empregado que tenha manifestação de livre pensamento, sobretudo se esta liberdade se volta em defesa da classe trabalhadora.
O controle da narrativa permite à mídia criar um universo paralelo, para dentro do qual até mesmo a esquerda se vê abduzida.
No afã de ser contra a mídia, muitas vezes fazemos exatamente o jogo dela.
A mídia, malandramente, pegou o discurso de liberdade de expressão, que é um discurso vencedor, e passou a defender um Charlie e uma França que sempre representaram tudo que a nossa mídia não é: socialista e libertária.
No grande jogo da geopolítica mundial, um jogo hoje profundamente midiatizado, a mídia brasileira quer posar ao lado dos vencedores, mesmo que estejamos falando de um jornaliznho comunista e libertário de Paris.
No fundo, ela age certo.
A esquerda, neste caso, é que pode ter cometido um erro, ao se deixar levar por um pensamento binário (a mídia é favor, então sou contra), permitindo que a mídia brasileira se finja de paladina de valores que ela, a mídia, historicamente, nunca defendeu: a democracia e a liberdade de expressão.
A mídia brasileira, tal como ela é hoje, se consolidou na ditadura.
Jornalzinhos como Charlie Hebdo, havia de montão no Brasil na década de 60, atendendo a atmosfera da época, profundamente libertária. Todos foram censurados. Os jornalistas e chargistas só encontraram emprego em dois ou três jornais do eixo Rio e São Paulo.
Sem concorrentes, sem outros jornais, empresas como Globo e Folha passaram a dar as cartas na opinião pública brasileira, durante décadas, e sua influência cresce vertiginosamente após a redemocratização.
Os poucos artistas do texto e da charge que sobreviveram à hecatombe da ditadura e às terríveis crises econômicas das décadas de 80 e 90, tiveram que se tornar submissos intérpretes do pensamento patronal.


Em suma, temos que deixar isso bem claro: a mídia brasileira é exatamente o contrário de tudo que se pode chamar de liberdade de expressão.