Jornal GGN - A falta de diversidade de ideologias nos grandes meios de comunicação do país resulta em distorções na percepção da sociedade. Grandes jornais direcionam a opinião da audiência, fazendo-a acreditar em suas publicações.
O blogueiro e jornalista Rafa Wacked faz uma brilhante analogia de como tudo isso funciona. Em uma sociedade "as pessoas observam o mundo através de janelas com tamanho e direção limitada – o tamanho faz referência ao poder de influência do meio de comunicação e a direção é a ideologia do mesmo".
Na última sexta-feira (26), a presidente Dilma Rousseff (PT) recebeu no Palácio da Alvorada alguns profissionais da chamada blogosfera progressista (GGN escreveu sobre isso aqui). Na saída do encontro, os blogueiros foram provocados pela equipe de reportagem da Rede Globo (aqui) e, nas reportagens da Folha e do Jornal Nacional, foram chamados de "blogueiros petistas" ou "simpatizantes do PT. O Blog Exame da Mídia explica por que a grande mídia age dessa forma. E mais: por que ela não é transparente e denota o seu partidarismo ao seu leitor/telespectador?
Exame da Mídia
Rafa Wacked
Depois da entrevista de Dilma Rousseff a blogueiros progressistas na tarde de ontem (26/09), os jornais da Grande Imprensa mais uma vez destacaram (aqui, aqui e aqui) a relação política entre blogosfera e PT.
Não há nada de errado em falar sobre o partidarismo dos chamados “blogs sujos” – eles mesmos fazem questão de deixar sua postura política clara.
O problema surge quando os jornais que denunciam o partidarismo alheio se declaram apartidários, como se não tivessem preferência pelo projeto neoliberal – hoje representado pelo PSDB e por Marina Silva.
Isso ocorre porque, na mente dos jornalistas da Grande Imprensa, essa declaração significa perda de credibilidade e, consequentemente, de audiência; dois elementos fundamentais para a sobrevivência do jornalismo.
O esclarecimento do leitor, portanto, não é o principal objetivo do jornalismo da Grande Imprensa. Caso fosse, os jornais fariam um ato de transparência declarando seu próprio partidarismo.
Mas não. Preferem sacrificar um maior entendimento político da audiência para assegurar sua própria credibilidade.
E essa postura traz consequências negativas para a sociedade.
Nos comentários das notícias dos grandes jornais do país é possível encontrar muitas pessoas dizendo, por exemplo, que “a Folha de S. Paulo é petista”.
Percebem a que nível chegou a consequência da informação “imparcial” veiculada na Grande Imprensa?
Essa distorção na percepção da sociedade é consequência da falta de diversidade de ideologias nos grandes meios de comunicação do país.
A teoria do enquadramento explica esse fenômeno dizendo que os jornais mostram a realidade para sua audiência segundo um determinado ponto de vista.
Explica a formação da opinião pública colocando metaforicamente toda sociedade dentro de uma casa fechada. Lá dentro, as pessoas observam o mundo através de janelas com tamanho e direção limitada – o tamanho faz referência ao poder de influência do meio de comunicação e a direção é a ideologia do mesmo.
Se uma sociedade possuiu grande variedade de janelas, com diferentes tamanhos, direções e características, poderá ver mais partes do lado de fora.
Uma sociedade que vive um regime ditatorial teria uma única janela grande, por exemplo: o Governo totalitário só permite uma única visão do mundo, que é a sua.
No Brasil, as grandes janelas do país estão voltadas para uma única direção – são a visão conservadora da sociedade. As de outras ideologias, que mostram outras partes da realidade, são menores e tem menos expressão dentro da “casa”.
Tendo em vista o tamanho dos grandes meios de comunicação do país, a maioria das pessoas vai olhar a realidade através de janelas grandes. E essas pessoas verão a mesma parte do mundo. Se ignorarem ou não descobrirem as janelas menores que mostram outras partes da realidade, acreditarão somente no que as grandes janelas mostram. E isso deturpa seu entendimento dos fatos “lá de fora”.
Dessa forma terão uma opinião condicionada ao que veem nos grandes meios de comunicação.
Ou seja, quando existe oligopólio econômico e ideológico na imprensa, os grandes jornais condicionam a opinião da audiência, fazendo-a acreditar que o que veem nos grandes jornais é a realidade pura.
Dessa forma, os cidadãos só veem o que a imprensa vê – ou quer que eles vejam. Tudo que fica fora do campo de visão de um jornal também é deixado de lado pela audiência.
Não é muito poder para um único grupo fechado e selecionado de empresas?
A situação pira quando essa influência é usada para atingir objetivos particulares dos grupos de comunicação.
Um exemplo. Eles derrubaram a PEC 37 fazendo a audiência acreditar que ela favorece a impunidade em casos de corrupção. Independente de ser ou não uma medida positiva para o país, a Rede Globo conseguiu acabar com a proposta com um ou dois editoriais de Arnaldo Jabor no Jornal da Globo.
Com métodos similares, também “criminalizam” o debate sobre a regularização da imprensa para que os cidadãos nem cogitem a ideia de limitar economicamente seus poderosos impérios midiáticos.
Ou seja, a Grande Imprensa usa sua influencia sobre os cidadãos para, justamente através deles, conseguir objetivos que, na verdade, não favorecem a sociedade.
É como se um patrão usasse o sindicato da categoria para conseguir diminuir os Direitos trabalhistas dos funcionários.
Por esse motivo, a concentração de poder na imprensa é completamente abominada na Europa, território onde existem Democracias mais estáveis que a brasileira.
Para estabilizar a situação do Brasil é preciso seguir o exemplo dessas Democracias e realizar uma reforma profunda que limite a quantidade de meios de comunicação dos conglomerados.
Enquanto esses grupos tiverem tanto poder de influência dentro da sociedade, o debate democrático do Brasil ficará limitado ao que eles defendem. E esses interesses no geral não correspondem com os da maioria pobre que formam a sociedade brasileira. Então é preciso mudar esse panorama.
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