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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Gráfico da Folha mostra Cantareira "mais cheio"

Enviado por Webster Franklin
Do Tijolaço
Por    
cantfolha
O gráfico interativo que “registra” o volume de água disponível no Cantareira publicado hoje pela Folha é, numa palavra, uma patranha.
Só o leitor muito atento vai perceber que ele não registra a realidade.
Por que? Porque ele começa em outubro do ano passado e “termina” no dia 10 de agosto, um mês atrás.
Dia em que o sistema tinha 398 bilhões de litros de água até o fundo – literamente – das represas e 170 bilhões de litros retiráveis para o consumo, considerando primeiro e segundo volumes mortos.
Ontem, estes números eram de 370 bilhões de litros no total e 144 bilhões de litros retiráveis.
Uma perda que chega, portanto, a um bilhão de litros por dia.
Há menos água no Cantareira hoje que há um ano atrás.
No Sete de Setembro de 2014, havia 428 bilhões de litros, quase 60 bilhões a mais que hoje.
Isso significa que, mesmo que a água seja suficiente para atravessar o final do período seco, entra-se no período chuvoso com as represas muito abaixo do que estavam há um ano.
Esta é a comparação honesta e informativa, não um truque gráfico que dá a impressão inversa.

Imprensa esconde Operação Zelotes: Não tem petista envolvido

A Polícia Federal deflagrou na quinta-feira (3) a segunda etapa da Operação Zelotes, que apura a existência de um bilionário esquema de sonegação de tributos no Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda.
As primeiras denúncias da Operação Zelotes, que apura um esquema de propinas e tráfico de influência no Conselho Administrativo de Recursos Fiscal (Carf), devem ser apresentadas ainda este mês. Segundo o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Frederico Paiva, que está à frente das investigações, seis empresas devem ser denunciadas nos próximos dias por crime de sonegação de impostos e corrupção no Carf. Uma delas poderá ser gaúcha. Atualmente são 20 empresas investigadas.
A iniciativa não produziu o mesmo alarido que têm gerado as ações da Lava Jato. Seja pela presença de políticos entre os envolvidos, seja pelo ritmo acelerado com que suas etapas se sucedem, as investigações sobre desvios também bilionários na Petrobras costumam atrair muito mais atenção.

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O barato fugaz do antipetismo



Enviado por Airão
Do Blog da Cidadania
por Eduardo Guimarães
Excetuando-se aproveitadores e oportunistas como os artistas decadentes aos quais o antipetismo em moda proporcionou chance de reaparecer, essa maioria tonitruante que se formou contra o PT e seus próceres decorre da ingestão de uma droga – ideológica, mas, ainda assim, uma droga como qualquer outra.
Sob os efeitos devastadores do antipetismo, o sujeito mostra a bunda, a moçoila mostra os peitos, alguns têm acessos de raiva, outros de euforia e outros tantos caem em prostração. E muitos cometem atos dos quais não há volta…
A ideologia, levada ao paroxismo, leva o indivíduo a desatinos como o de sair à rua quebrando tudo ou simplesmente dizendo coisas que jamais diria em estado normal, bloqueando seu estado de consciência e sua racionalidade a um ponto em que fica impossível argumentar consigo logicamente.
E, como toda droga, o antipetismo é distribuído por traficantes ideológicos que fizeram fortuna aliciando as vítimas potencialmente mais indefesas, os jovens.

A droga ideológica também se assemelha a drogas químicas como cocaína, crack ou álcool no sentido de que, para produzir seus efeitos devastadores, requer doses cada vez maiores, daí excessos como os do advogado intoxicado que, enquanto sua batata estava assando na Justiça, mergulhou em uma escalada de ameaças criminosas que deve lhe render uma ressaca daquelas…
Como as drogas químicas, porém, a droga ideológica afeta as pessoas a um ponto que, ao ser atingido, a desintoxicação acaba se impondo.
A desintoxicação, portanto, virá. Claro que quando as vítimas do porre ideológico se recobrarem, como todo aquele que abusa das drogas essas pessoas poderão ter destruído as próprias vidas. O bêbado sai dirigindo por aí e mata ou se mata – ou ambos. Pode estuprar, roubar, cometer qualquer desatino, mas, em algum momento, recobrará a consciência e se dará conta do que fez.
A ressaca desse porre ideológico virá quando os usuários do antipetismo se derem conta de que tomaram uma overdose que lhes causou a alucinação de que problemas econômicos que o mundo inteiro atravessa serão resolvidos com a defenestração do grupo político que ocupa o poder.
Ao longo dos últimos 12 anos – período que viu uma geração de embriagados com antipetismo se tornar adulta –, a sociedade se acostumou a cada ano ganhar salários maiores e encontrar mais oferta de empregos. Intoxicadas, as pessoas acham que para recobrar o que sentem que lhes foi tirado bastará romper a normalidade democrática derrubando o governo.
A ressaca vai ser brava. Muitos descobrirão que, durante os efeitos do antipetismo, jogaram fora seus empregos, tocaram fogo em suas casas, enfim, cometeram os atos que cometem os que se intoxicam com substâncias perigosas – no caso, uma ideia.
O acesso de raiva provocado pela droga, então, mudará de foco.
antipetismo 3
Em franco processo de desintoxicação social, haverá uma revolta dos usuários de antipetismo contra os traficantes.
Mas como o antipetismo é uma droga legal como o álcool e, assim, tem propaganda na televisão, no rádio, nos jornais, nas revistas semanais, além de belas embalagens e uma imensa rede de distribuição – além de custar caro –, não será possível proibi-lo.
Porém, o antipetismo será visto como o álcool e o cigarro. Seus usuários irrecuperáveis se tornarão párias sociais. Será proibido em ambientes sadios, mas restritos. Continuará sendo usado nas ruas, em privado, mas a publicidade acabará se inviabilizando.
O tratamento do antipetismo crônico, porém, não será apologia ao PT ou a qualquer grupo político ou ideológico; consistirá em mostrar às pessoas que não se pode responsabilizar grupos políticos ou ideológicos por tudo de bom ou tudo de mau.


O preço do uso indiscriminado dessa droga será alto, mas, como todo desatino que sociedades cometem, deixará lições que, infelizmente, como em outros momentos de embriaguez coletiva poderão ser esquecidas pelas gerações futuras se os que permaneceram sóbrios não tomarem cuidado ao tratar os viciados.




domingo, 6 de setembro de 2015

O jornalismo que não vê e se omite, por Luiz Cláudio Cunha


Do Observatório da Imprensa
O Brasil ficou chocado com os 84 segundos de imagens em preto e branco que assistiu nos principais telejornais do país na sexta-feira, 28 de agosto. Mostravam as cenas violentas de um assalto à luz do dia numa avenida movimentada de São Bernardo do Campo, SP, quando o ladrão esmurra o vidro de um carro, arranca a motorista que o dirigia, joga a mulher no chão e arranca com o veículo.
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O ataque: aos 15 seg, o homem começa a esmurrar a porta da motorista.
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O recuo: aos 21 segundos, o carro branco atrás dá marcha a ré para se afastar do ataque.
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A fuga: aos 25 segundos, o carro de trás manobra pela direita e foge dali contornando a van.
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A omissão: aos 59 segundos surge alguém para ajudar, enquanto os carros passam sem parar.
(Reprodução de fotos ABCD Maior)
Foram cenas captadas às 8h da manhã do sábado anterior, 22, pelo sistema de segurança da prefeitura, num trecho da avenida José Fornari, no bairro Ferrazópolis, e divulgadas pelo jornalABCD Maior. Repetida exaustivamente, a sequência impressiona pela brutalidade, que todo mundo vê. Os telejornais viram e reprisaram. Mas, o jornalismo fracassou em sua missão básica ao não ver, ali, o que devia ter visto, registrado e denunciado.
Vamos rever a cena captada com neutralidade pela câmera da avenida e ecoada com insensibilidade pela imprensa brasileira – acessível no YouTube em https://www.youtube.com/watch?v=sQLZ6xyykNw.
Um homem de menos de 30 anos aproveita o trânsito parado, circunda por trás de um Honda Fit, como se fosse cruzar a avenida, e aos 10 segundos da gravação se volta de repente em direção à porta da motorista. Com inesperada violência, começa a esmurrar o vidro. O carro tenta arrancar. O primeiro murro acontece aos 15 seg. Aos 16 seg, um segundo murro. Aos 17, o terceiro. Ele força a abertura da porta aos 18, que se abre no segundo seguinte.
Com violência, puxa para fora a motorista, uma senhora de 64 anos, e a joga sobre o canteiro central da avenida, aos 25 segundos. Ele toma o lugar da motorista e arranca com o carro. Outra mulher, que estava no banco de passageiro, consegue sair pela porta direita, pega uma bolsa caída na avenida e vai ao encontro da amiga, caída sobre o canteiro central. Aos 59 seg, enfim, um homem cruza a avenida ao encontro das duas mulheres, para prestar algum socorro.
Na câmera e na consciência
A motorista de 64 anos, a psicopedagoga Rosa Maria Costa, deslocou o tornozelo e sofreu quatro fraturas na perna direita. O ladrão acabou capotando o carro na Via Anchieta e, no acidente, ainda atropelou um homem de 65 anos. Um carro parou para socorrer, o motorista desceu e o ladrão roubou o outro carro, desaparecendo. Um fato nada estranho na Grande São Paulo, onde acontece um roubo ou furto de carro a cada quatro minutos. Entre janeiro e julho, na maior região metropolitana do país, 74.129 veículos foram surrupiados por bandidos.
O que mais espantou na cena de violência em São Bernardo, que todo mundo viu, foi a cena que a imprensa não viu, não comentou ou desprezou. Ninguém da TV, rádio ou jornal, nenhum colunista, nenhum blogueiro, nenhum militante das ubíquas redes sociais destacou o vergonhoso espetáculo coletivo de acovardamento, omissão, negligência e falta de solidariedade que marcou o entorno da agressão na avenida.
Está tudo lá, gravado para sempre na câmera da TV e na consciência envergonhada de quem tudo viu e nada fez. Ou fez errado. Como o motorista do carro branco, provavelmente um Corolla, parado imediatamente atrás do carro atacado pelo assaltante.
Quando o agressor desferiu seu terceiro murro na porta, aos 17 seg, o motorista do Corolla começa a dar ré no carro. Se tivesse feito o contrário, acelerando em direção ao atacante, que não estava armada, ele teria frustrado a agressão e afugentado o agressor. Em vez disso, o carro branco recua uns dois ou três metros, lentamente. No momento em que Rosa Maria é jogada na avenida, o Corolla vira à sua direita e desaparece de cena atrás de uma van parada ao lado, com um motorista, também inerte, à direção. O carro roubado, o Corolla e a van arrancam quase ao mesmo tempo, enquanto a vítima rolava na avenida.
No canto inferior direito da tela, três homens passam pela calçada, indiferentes ao drama das duas mulheres no canteiro central. Só aos 59 seg aparece um homem de jaqueta preta, que atravessa a avenida para socorrer as duas mulheres. Durante os 84 segundos que dura a cena gravada, o que se vê e ninguém comenta é um desfile pusilânime de indiferença, de gente que não se importa, que não vê, não olha, não para e não comete nenhum gesto de solidariedade. Além da van e do Corolla que fugiram da cena do crime, outros quatro carros, dois ônibus e um caminhão passaram pelo local, no sentido do carro assaltado. Do outro lado da avenida, no sentido inverso, passaram 21 carros neste curto espaço de tempo — e ninguém parou, nem por curiosidade.
Nesta sociedade cada vez mais integrada por redes sociais, cada mais conectada por ferramentas como Facebook, Twitter e WhatsApp, cada vez mais interligada por geringonças eletrônicas que deixam todo mundo plugado em todos a todo momento, a cena brutal de São Bernardo escancara o chocante estágio de uma civilização cada vez mais desintegrada, mais desconectada, mais desintegrada. É uma humanidade apenas virtual, falsa, narcisista, cibernética, egoísta, que se decompõe em pixels e se desfaz na tela fria da vida cada vez mais distante e desimportante.
Ninho da omissão
A polícia, sempre fria e técnica, recomenda não reagir em casos de assalto, para evitar danos maiores. No episódio deprimente de Rosa Maria, tratava-se não de reagir, mas de defender uma vida, de proteger um ser humano, de cessar uma agressão, de impedir um abuso, obrigação que cabe a todos e a cada um de nós. A reação de um, um apenas, motivaria o auxílio de outro, e mais outro, numa sucessão de atos reflexivos de autodefesa em grupo que explicam a evolução do homem da caverna para o abrigo solidário da civilização.
Ninguém fez isso — na hora certa, com a firmeza necessária, com a generosidade devida, com a presteza impreterível. Esse espetáculo coletivo de insensibilidade e de crua indiferença atropelou toda a imprensa, em suas várias plataformas. Naufragaram até mesmo os programas e apresentadores que vivem da violência explícita e cotidiana de nossas cidades, grandes ou pequenas, com seu festival interminável de ‘mundo cão’.
Os programas das grandes redes de TV, que cruzam as manhãs e tardes do País com a tediosa banalidade de sangue, morte e violência do cotidiano, se refestelaram com a caso de São Bernardo, reprisando várias vezes a cena da avenida. Como sempre, no estilo furioso e mesmerizado de todos, despontou a tropa de elite da truculência na TV, sob o comando de José Luiz Datena (Band), Marcelo Rezende (Record) e Ratinho (SBT). Aos gritos, aos berros, no jeito gritado de um e de todos, ecoaram como de hábito a visão policial e teratológica da realidade, deixando de lado a preocupação social de uma segurança pública falida e desarvorada pelas balas perdidas da incompetência dos governantes.
Só esqueceram do entorno, da cena explícita de covardia e indiferença das pessoas que testemunham, assistem, presenciam, mas não interferem, não intervêm, não reagem. Ninguém lembrou do exemplo de São Bernardo para denunciar esta falsa sociedade compartilhada, mais preocupada em seus interesses compartimentados, que nenhuma rede social humaniza ou aproxima, a não ser virtualmente.
Um jornalismo que não vê o que é necessário, que não percebe o contexto além do texto, descumpre a sua missão. Esconde a realidade, ao invés de revelá-la. O repórter fiel ao seu ofício deve estar atento ao murro do assaltante no vidro do carro. Mas deve prestar atenção maior ao Corolla branco e aos carros que passam por ali, indiferentes ao que se vê e ao que acontece.
O bom jornalismo sabe que é nesse ninho da omissão que cresce a violência e prospera o fascismo.
***
Luiz Cláudio Cunha, jornalistaé autor de Operação Condor: o Sequestro dos Uruguaios (L&PM, 2008)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

725 reais se transformaram em R$ 36,6 milhões: a contadora filiada ao DEM que levou “laranja” petista a ser denunciada em Veja

725 reais se transformaram em R$ 36,6 milhões: a contadora filiada ao DEM que levou “laranja” petista a ser denunciada em Veja


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POLÊMICA
Contadora filiada ao DEM errou prestação de enfermeira
Erro transformou servidora em milionária do dia para a noite; R$ 725 viraram R$ 36,2 milhões
PUBLICADO EM 11/06/15 – 03h00
Filiada ao DEM e ferrenha opositora do PT nas redes sociais, a contadora Rosilene Alves Marcelino admite ter errado a prestação de contas da enfermeira Helena Ventura, candidata a deputada estadual pelo PT, e incluído, indevidamente, o montante de R$ 36,2 milhões em um pagamento feito durante as eleições do ano passado.
O valor correto, de R$ 725, foi pago à empresa de propriedade de Benedito Rodrigues, o Bené, preso pela Polícia Federal na operação Acrônimo.
Porém, com o equívoco de digitação, foram contabilizados os R$ 36,6 milhões, transformando a enfermeira, que é servidora efetiva do Estado há mais de 30 anos e recebe cerca de R$ 2.000 por mês, em uma milionária do dia para a noite.
Helena passou a ser abordada por equipes de reportagens de todo o país, e as matérias, segundo ela, aprisionaram-na em sua própria casa.
O erro gerou a suspeita de que a candidata teria sido usada como laranja para alguma operação ilícita na campanha.
Em entrevista exclusiva a O TEMPO Rosilene, responsável pela Contabilidade Shalon, localizada em Betim, cidade onde a enfermeira reside, reconheceu a gafe.
Por meio de uma declaração escrita de próprio punho e registrada em cartório ontem, ela retificou a informação, explicando que o valor correto do pagamento era mesmo os R$ 725.
“Foi um erro de digitação. Eu disse para ela: ‘Nem você, nem eu vimos’. Ela veio faltando uma hora (para acabar o prazo), querendo que eu fizesse a prestação de contas dela, que tinha que ser feita naquele dia”, justificou, minimizando o problema. “É a coisa mais simples de resolver. É só entrar e fazer a retificação”, completou.
A justificativa, porém, não foi totalmente aceita pela enfermeira, que diz se sentir ameaçada com a repercussão que o caso tomou, após matérias serem publicadas em revistas de circulação nacional. “Foi um valor muito específico para ser confundido por uma pessoa que tem facilidade com números”, lamentou Ventura.
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A barrigada de Veja, que denunciou Helena Ventura
Quando a prestação de contas foi entregue, em novembro do ano passado, Bené já tinha ganhado as manchetes, após o episódio em que um avião de sua propriedade foi apreendido com R$ 113 mil em dinheiro no aeroporto de Brasília. A ação deu origem à investigação da Acrônimo, que apura suposta lavagem de dinheiro.
Com 20 anos de experiência, a contadora Rosilene fez a prestação de contas de diversos candidatos, mas Helena Ventura foi a única do PT. A profissional foi escolhida por acaso, segundo Helena, após sua contadora habitual recusar o serviço.
De acordo com Helena Ventura, que afirma desconhecer Bené ou a Gráfica Brasil, o gasto se referia a santinhos de campanha, encomendados pelo PT e rateados entre os candidatos na disputa.
Por causa da divergência, o TRE abriu investigação e solicitou esclarecimentos. O tribunal realizou uma diligência em um endereço cadastrado de Helena.
Ataque na rede
Oposição. Nas redes sociais, Rosilene Marcelino posta frequentemente mensagens contra o PT e a presidente Dilma Rousseff. À reportagem, diz que “o PT está destruindo o país”.
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sexta-feira, 22 de maio de 2015

A mídia de Schrödinger

BRASIL DEBATE

Por Tadeu Porto
Confesso que já subestimei a inteligência da imprensa nacional. Bom, depois de ver boa parte dela ~hagir~ como se não soubesse sequer os nomes dos presidentes de países da América Latina, acabei desdenhando um pouco mesmo. Sei que boa parte dos leitores me entende e peço desculpas aos demais por uma posição tão esnobe. Não se repetirá, prometo!
Até mesmo porque melhorei meu juízo sobre a mídia brasileira nos últimos dias, afinal descobri que ela parece ter aplicado conceitos de física quântica em seu jornalismo, e isso não é para qualquer um!
Em 1935, o físico Erwin Schrödinger criou um exercício mental para demonstrar o paradoxo que era abstrair com elementos cotidianos a teoria referente à mecânica quântica. O experimento consistia em considerar um gato vivo preso dentro de uma caixa fechada e opaca, com um frasco de veneno intacto, um martelo, um recipiente com material radioativo e um detector de radiação.
Com tal configuração, haveria duas possibilidades: (1) o detector identificar o material radioativo que aciona o martelo, quebra o frasco e libera o veneno matando o gato; ou (2) o detector não identificar o material radioativo, e os demais itens ficam no mesmo estado inicial e o gato continua vivo.
O interessante dessa proposta é que, segundo a física quântica, o gato pode estar vivo ou morto no mesmíssimo instante (considerado estado vivo morto) uma vez que a partícula radioativa subatômica pode assumir as duas posições – detectada ou não – ao mesmo tempo.
Sem a pretensão de querer ser um novo Nobel de física, proponho aqui também um experimento para mostrar o quão dúbio é o comportamento dos nossos grandes meios de comunicação que, assim como partículas subatômicas, podem assumir duas posições diferentes no mesmo instante, numa incrível contradição no tempo e espaço!
O exercício mental consiste em imaginar um esquema qualquer de corrupção. Na investigação do crime, existe um delator numa sala, depondo para uma instituição pública qualquer (um conjunto de legisladores ou policiais, por exemplo). No mesmo recinto tem um repórter da grande mídia que irá publicar certa notícia. As duas possibilidades existentes são: (1) o delator insinua a participação de alguém do PT em algum esquema ilícito; ou (2) o delator insinua uma outra participação, semelhante ou até igual, de alguém que não é do Partido dos Trabalhadores.
Dentro desses dois estados, a mídia conseguiu criar um paradoxo chamado sujeito inocente culpado. Se a pessoa tiver alguma ligação com o PT é automaticamente tratada como culpada pela imprensa. Todavia, com os mesmos sujeitos e na mesma situação, se for um indivíduo de oposição ao governo logo é tratado com a presunção de inocência (como se deve ser, diga-se de passagem).
Vamos a dois exemplos práticos:
Primeiro, o delator Alberto Youssef insinua que o governo sabia dos esquemas de corrupção da Lava Jato. Logo, o “fato” vira capa da revista de maior circulação nacional às vésperas da eleição, com direito a grande divulgação por parte de outros veículos e um jargão exaltando a culpabilidade que perdura até os tempos de hoje. Eis o sujeito culpado.
Agora analisemos o mesmo delator, conversando com a mesma polícia acerca do senador Aécio Neves, oposição ao governo e adversário derrotado ao planalto em 2014. Youssef afirmou que o mineiro dividia uma mesada de aproximadamente 100 mil dólares com outro político. Apesar da informação ter muito mais riqueza de detalhes, diferente da primeira, a mídia se comportou de maneira muito mais cautelosa: nos títulos das matérias não tem mais afirmativa mas sim a palavra “suposto”; a revista que tinha dado capa à outra delação sequer escreveu sobre o ocorrido (confesso que não achei na pesquisa do Google) e o assunto morreu atualmente. Esse é o sujeito inocente.
Então, se houver uma delação de alguém, para uma instituição qualquer, sobre fulano de tal, este estará num estado antagônico inocente culpado até que a mídia descubra se o mesmo é petista ou não.
O segundo exemplo é parecido e ainda mais pontual. Em declarações recentes à CPI da Petrobrás, o mesmo Youssef realizou, entre outras, duas afirmações: que o planalto possivelmente sabia do ocorrido (ele afirmou não ter como provar, e frisou que era apenas uma opinião) e que havia mandado remessas de dinheiro em nome do PMDB com envolvimento do Eduardo Cunha.
Sobre o envolvimento do planalto, novamente as principais mídias deram grande destaque à notícia (que além de antiga é uma suposição), como pode ser visto aquiaquiaquiaqui e aqui (5 mesmo, não perca a conta).
Já sobre a participação do atual presidente da Câmara dos Deputados, que afirma fingir ser governo, a mídia tradicional deu pouquíssimo destaque, com ênfase no jornal mineiro que conseguiu dar um viés positivo à declaração envolvendo o deputado carioca (imaginem uma manchete “Youssef diz à CPI que não pode confirmar envolvimento do governo”).
Vale ressaltar que na proposição do gato de Schrödinger, o observador faz a diferença: uma vez que a caixa é aberta, a posição vivomorto do felino se desfaz e ele aparecerá em apenas um estado. Portanto, da mesma maneira, cabe aos leitores, ouvintes ou telespectadores das mídias tradicionais assumirem a posição de observadores críticos e tentarem enxergar o estado verdadeiro das acusações.
Afinal de contas, se os pitbulls do ódio conseguirem vencer os debates sociais com seus discursos irracionais, a tendência é que eles matem qualquer gato, com caixa e tudo. No fim, não sobrará nem a teoria para análise.